domingo, dezembro 22

PARADIGMAS? OU METONÍMIAS? por Eduardo Berger

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Já há um bom tempo, numa palestra motivacional, ouvi algo sobre paradigmas… O orador contou algo mais ou menos assim: “Eu estava meio cansado de utilizar transporte coletivo. Como eu tinha pouca grana, o que deu para comprar foi um Corcel meio velho para, com ele, me locomover. Confesso que senti significativa atração por sua cor branca. Só que quando eu transitava com ele e chovia, eu ficava todo molhado. Além disso, eu o deixava estacionado junto ao meio-fio, em frente à minha casa, e ele fazia muita sujeira a ponto dos vizinhos reclamarem. Vocês me dirão que esse carro deveria estar muito velho mesmo, talvez com um buraco na capota e vazando muito óleo, certo? Erraram: era velho, sim, mas não era um automóvel da Ford, era um velho corcel branco, um cavalo!”

                   

Meu filho menor, Marcos Berger (44), teria uns 4 anos – o chamávamos Nenê, ou simplesmente Nê. Adorava cães como, habitualmente, todas as crianças… Tínhamos uma cadela vira latas, a Laika (era um nome muito utilizado nos ’60/’70, lembrando certa heroína do espaço de triste memória); ela procriava a cada cio, e os filhotes saiam com “quase todas as cores do arco-íris”. Pois bem, certa vez, nasceu um quase totalmente branco; tinha apenas uma única mancha negra que circundava um de seus olhos – tudo a ver! O “batizamos” com o nome que estava em sua cara: Moshe Dayan! Nê e Moshe eam inseparáveis. Certo dia, estávamos nós três, na sala de TV – eles dois brincando no tapete, distraídos, e eu, atento ao narrador de um documentário sobre conflito havido uns 10 anos antes no Oriente Médio, a Guerra dos Seis Dias. Em dado momento, é citado o emblemático General, astuto estrategista, que teria sido o “artífice da vitória”: Moshe Dayan. De imediato, o Nê tem sua atenção voltada ao fato, como que desperta, e clama: -“Pai, tão falando do meu cachorrinho”!

                     

Recentemente, tentei encontrar na Internet algo sobre meu antigo Mestre e chefe, o Professor Edmundo Vasconcelos. Fui ao Google e grafei Edmundo Vasconcelos = 2.560.000 resultados; aí, mudei para Professor Edmundo Vasconcelos = 529.000 resultados; finalmente, “Professor Edmundo Vasconcelos” = 12.800 resultados. Entre todas as pesquisas, centenas de milhares de referências ao hospital próximo ao Parque do Ibirapuera, além de muitas outras de uma rua situada em São Bernardo do Campo e de estabelecimentos nela instalados. Publicações sobre nosso velho e ilustre mestre, quase nada!

Acredito que todos saibam que toda minha atividade profissional sempre foi no mesmo local: chamava-se Hospital Gastroclínica, e fui para levado, pelas mãos do Professor, no final de nosso R1. Em dezembro próximo, completo 49 anos lá no Hospital Edmundo Vasconcelos. Pois é, esse é o novo nome da Instituição… sem professor e com logomarca em minúsculas…

Não duvide, se perguntarem a um funcionário ou a um cliente do hospital “quem foi Edmundo Vasconcelos”? É bem capaz do gênio responder: -“Ora, você não sabe? Gastroclínica, meu!”

                 

A FMUSP é uma Instituição paradigmática – ninguém pode negar, tamanhos os reconhecimentos que obteve ao longo de sua trajetória de ensino e pesquisa.

Numa determinada competição universitária, batalhavam na quadra de esportes a Escola Paulista de Medicina e a nossa Faculdade. Os berros das torcidas se confrontavam, de um lado, “PAULISTA! PAULISTA!”, do outro, “MEDICINA! MEDICINA!”. Entenderam? Metonímia? Ou paradigma? Prefiro o segundo.