segunda-feira, dezembro 30

A pediatria no contexto da 52ª, Pedro Takanori Sakane & Ulysses Dória Fº

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Nunca dantes na história do HC, houve uma turma com tantos pediatras como na 52ª.

Assim, de cabeça, lembramos de: Serjão, Noragi, Martins, o saudoso Romeu, nós dois – Ulysses e Takanori – Samuel, Ruy, Cilene, Mina, Silvinho, Reinaldo, o Juscelino (que era da 51ª) e o Luis Carlos e o Arilton (que não eram formados pela FMUSP), e não temos certeza se Marisa e Cheng seguiram pediatria.

Fenômeno esquisito pois, tradicionalmente, a cirurgia era o objetivo mais cobiçado do HC, e a Pediatria, assim como MI, dermatologia, e vários outros, não tinham tanto charme, tanto que em muitas, nem exame para residência havia.

O que teria na Pediatria que atraiu tanta gente?

Naquela época, a Pediatria era composta pela Enfermaria, que ficava no quinto andar, e três salas no PS: a SAC (Sala de Atendimento Contínuo), a SAPI (Sala de Atendimento Pediátrico Intensivo) e a Enfermaria do Pronto Socorro, mais conhecida como 4038. Tínhamos, também, os berçários, o B5 e o B10, este ligado à Obstetrícia.

Era uma fase boa no departamento de Pediatria. Haviam vários médicos assistentes jovens, com muita disposição para o ensino. Assim, no Pronto Socorro tínhamos o Adanor Quadros, clínico de mão cheia que, nos jogos do Corinthians, ficava no cantinho escutando radinho de pilha e sofrendo (era a fase negra do Timão, que amargurava quase 20 anos sem títulos); Roberto Piacsek, ídolo das meninas, Flavio Vaz, que viria a ser professor titular, Gabriel Ruiz, morto prematuramente, Maria Fujimura, a Mariazinha, o chefão, Sergio Lebeis Nascimento e outros, que a memória fraca faz esquecer.

E tínhamos o Gabriel Wolf Oselka, que, além de ser plantonista da SAPI, era o responsável pela 4038.

Na Enfermaria ficavam os membros mais antigos da casa, os quais não tinham muito contato com os internos, como o Professor Antranik, a Dra. Hedda de Oliveira Penna, Dr. Rafael Liberatore, Dr. José Augusto Conceição, Dra. Dorina Barbiere, Dra. Dulce, esposa do Professor Marcondes, Dr. Samuel Schwatzman, Dr. Fabio Pillegi, Dr. José Lauro, Dr. José de Araújo, enfim, uma plêiade de notáveis.

Dentre todos os assistentes que atendiam os internos, destacava-se Gabriel Oselka, não só pelo vasto conhecimento que tinha da pediatria, como pela sua visão mais social do mundo. Mas o que o diferenciava de verdade, era o grande carisma que tinha e que conquistava tanto internos como residentes. As suas reuniões eram sempre muito produtivas e as discussões muito interessantes. A sua figura, sem dúvida, motivou muitos a fazerem Pediatria, não só como residente, mas como estagiários e voluntários. Muitos, inclusive nós, nem pensávamos em seguir a especialidade, mas após contato com o Gabriel, acabamos sendo seduzidos e mudamos de ideia.

Esta aproximação com os internos culminou com a sua escolha para o paraninfo da nossa turma. Óbvio que os “grandes” do HC não gostaram da ideia de ter um jovem, de poucos anos de formado, que nem doutorado tinha, ser escolhido como paraninfo de uma turma da FMUSP. Mas tiveram que engolir. Mas talvez tenha ficado um “gosto amargo na boca deles”, pois pouco tempo depois ele perdeu a chefia da enfermaria 4038, que passou a ser dirigida pela Cristina Jacob e, na escolha de chefia da Enfermaria de Isolamento, recém inaugurada, foi preterido e a função coube ao Takanori, que naquele tempo trabalhava também no Serviço de Moléstias Infecciosas do Hospital do Servidor Público Estadual, sob a chefia do Prof. Vicente Amato Neto.

O Gabriel foi se afastando aos poucos da clínica e enveredou para a parte mais política da medicina, atuando no CREMESP, no CFM e, no âmbito do HC, interessando-se pela Bioética, onde tornou-se um dos expoentes máximos. Deixou, entretanto, importante legado e, da antiga enfermaria 4038, saíram grandes especialistas, como o Prof. Vicente Odoni, titular da Pediatria e oncohemalogista, a própria Cristina, Imunologista e livre docente, Tatiana Rozov, posteriormente Joaquim Rodrigues, pneumologistas e livre-docentes, a Maria Helena Kiss, livre docente posteriormente Clóvis Almeida, reumatologistas, sendo este último titular de Pediatria, e vários outros.

2 comments

  1. eduardo berger 7 dezembro, 2019 at 10:09 Responder

    É inquestionável ter ocorrido uma forte identidade entre o Departamento de Pediatria e a nossa turma. Eu mesmo, “cirurgião” desde os tempos de calouro, em vista de minha aproximação ao Oselka e a seu colega de turma, o saudoso Herminio Lozano, quase “virei médico de criancinhas”… (https://fmusp-turma52.com.br/2018/03/10/comissao-de-formatura-homenageados-por-eduardo-berger/)

    Takanori e Ulysses colocaram bem: o que atraiu tantos colegas à especialidade, foi a qualidade do notável corpo docente que havia à época – nos proporcionaram um curso excepcional no quinto ano, e um estágio no internato ainda melhor!

    Quem ganhou com isso foi a medicina paulista e brasileira, com a significativa contribuição que recebeu do excelente grupo de pediatras da 52ª!

  2. Ruy Marco Antônio 16 julho, 2022 at 12:14 Responder

    Realmente tivemos o privilégio de conviver com grandes mestres que amavam o que faziam e nos inspiravam.
    Eu sai da cirurgia cardíaca, quando passei na pediatria e convivi com Dra Heda, na liga de Puericultura, e o Gabriel, no PS.
    Acho que além de muitos, fomos muito bem formados, restando: gratidão!

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