segunda-feira, outubro 7

O SEGREDO DA MÚMIA por BONNO VAN BELLEN

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Era 1976, em Chicago, a Northwestern Univesity acabava de inaugurar com espalhafato a tomografia computadorizada. Era realmente uma grande novidade.

Logo alguém do Museu da História natural achava que essa nova maravilha poderia desvendar o segredo da múmia. Combinou-se dia e logística: um batalhão de batedores da polícia, uma viatura especial blindada, e lá vinha a múmia.

O Dr. Yao soube antecipadamente o que iria acontecer e me convocou para aproveitar e fazer uma biópsia da artéria femoral da múmia. Imagine, ter uma amostra da artéria e poder saber se a múmia teria alguma doença arterial datada de uns 4.000 anos!! Ficamos de prontidão. Logo aconteceu um imprevisto: a múmia estava enfaixada sobre um tipo de maca de madeira e sua cabeça não entrava no receptáculo do tomógrafo. Aliás, na época, era a única coisa que podia ser tomografada pois os aparelhos ainda eram muito precários. Enquanto se conferenciava sobre como resolver o impasse, nós planejávamos nossa investida que era, diga-se de passagem, totalmente ilegal. A uma determinada hora os policiais que faziam a guarda da múmia foram embora para almoçar e nós aproveitamos a oportunidade. Enfiamos a grossa agulha de biopsia na região inguinal direita. Mas progrediu pouco. A pele da múmia é um couro impossível de penetrar. Cutuca daqui e cutuca dali. Nada. Pior foi quando tiramos a agulha. Ela tem uma reentrância e quando a tiramos abriu um rombo indisfarçável nos panos que a enfaixavam. Vimos o estrago que provocamos e caímos fora. Até hoje o museu de Chicago não entende o que aconteceu com sua múmia preferida.

Muitos anos depois fui ao museu de História Natural de Chicago. Uma força sobrenatural me empurrou para a sessão do Egito e fui ver as múmias. Juro que ví a nossa vítima. Tinha uma falha nas bandagens na região da virilha direita, onde tínhamos tentado introduzir a agulha de biópsia. Juro!.

 

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