“Pessoa querida, me perguntaste donde veio esta minha fissura pelo mar – vou te contar”…
Men of the sea must grab what comes in his hands.
It’ not always that luck smiles to them!!
Sou um péssimo pescador! Agitado demais para uma atividade de paciência e perseverança. Adoro pescar… sentado num restaurante, experimentando a especialidade do chef.
O mar em si me atrai pela sua inconstância e a necessidade de um planejamento cuidadoso. São tantas as variáveis que se torna impossível se precaver delas todas – e o resto fica por conta do barco no mar. Aí entra o imponderável!
Aos 12 anos, alugávamos uma casa em um bairro de Itanhaém, Cibratel. Era uma casinha simples, mas passávamos o mês de janeiro lá. Em Mococa, morávamos na fazenda, zona de bócio endêmico, e minha mãe achava importante este mês na beira do mar para evitá-lo.
Lá havia pesca artesanal, com grandes barcos de madeira, a remo de voga. Os pescadores lançavam a rede cedinho, ao raiar do dia e, mais tarde, voltavam para a praia e faziam sua puxada com compridas cordas. Precisavam de uma pessoa pequena para ir desenrolando e lançando as cordas atadas na rede, para depois puxa-la de volta. Eu era um verdadeiro azougue, e logo era eu quem saia com os pescadores desenrolando os cabos. Quando vinham as ondas mais altas e estouravam na proa, era fácil eu pular para baixo da plataforma de lançamento e voltar rápido para a posição. Fui adquirindo confiança nas coisas do mar com aquela equipe de caiçaras, curtida no metiê por anos.
Eis que chegam meus primos de Sampa, trazendo um barquinho de plástico a remo de voga, de encher no sopro. Não deu outra, os primos viram-me na faina da pesca e me pediram para ensiná-los a remar. Pensei comigo: “saio sozinho pra testar a “embarcação”, depois os ensino”. Tarde calma mar baixo, fui experimentar o tal… Estes barquinhos são muito ariscos e de pouco calado, mas a superfície inflável tem volume e fica alta, portanto vulnerável ao vento.
Parece que foi encomendado: assim que me afastei da praia, entrou um vento firme de terra, e eu comecei a perder o controle da situação, por mais que eu remasse não conseguia vencer o vento. Comecei a entrar em pânico, pois o vento vinha do sul e iria me levar direto para o enorme costão de pedras da Cama de Anchieta, que separa a praia de Cibratel e a praia do Sonho. O estrondo do mar nas pedras era terrível, mas felizmente, lembrei-me da lição dos pescadores: “Mar forte, com arrebentação, fuja da terra! Vá para o alto mar, que ele mesmo te traz de volta”. Remei furiosamente para o alto mar. A terra ficou pequenina ao longe, passado o costão inverti o jogo e fui devagarinho me aproximando da terra, agora protegido dos ventos pelo próprio costão que quase me engoliu.
Depois de muito tempo consegui chegar na praia do Sonho, onde uma pequena multidão me esperava. No lugar de minha mãe, minha tia e todos os primos. Ninguém teve coragem de avisá-la!
Um salva vidas veio nadando e me ajudou na arrebentação.
Chegando na praia ele me deu um tapinha nas costas e disse: “teve muita sorte menino”!
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Flavio, que susto! Mas foi um emocionante início de carreira náutica e a primeira lição de respeito ao Mar.
O mar é traiçoeiro mesmo. Se estiver nadando perto da praia e pegar uma corrente, as vezes você não consegue voltar. Eh deixar levar até onde puder sair da corrente
Qto a pescar, realmente é esporte de paciência. Que diga o Paulinho Yasuda. Eu pescava nos costões, devido cinetose. Ficava o dia inteiro, as vezes voltando sapateiro.
Mas o Yasuda poderia dar umas lições
Sou das montanhas. Mar, para mim, era uma coisa que se via, no máximo, uma vez ao ano, uma semana, nas férias do meu pai. Depois de formado, comprei um terreninho em Maranduba e uma casinha de madeira, pois a minha filha gostava muito de mar. Desde então, tenho ido muito ao mar e aprendi muito, principalmente respeitá-lo. Correntezas são um risco, principalmente para nadadores e pescadores de praia.