segunda-feira, setembro 16

Albino Carramão das Neves, o valoroso guardião da Atlética, Eduardo Berger

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Em nosso tempo de Faculdade muito de pitoresco ocorreu… não é a toa que aqueles velhos e bons tempos ainda estão vivos em nossas lembranças.

Curiosamente, entre tantas outras coisas, convivemos com uma “trinca insólita”: todos coroas, igualmente lusitanos e com nomes iniciando pela letra “A”; e todos chamando a atenção por suas excentricidades! Como já sabem os colegas da turma, eram eles o Américo (zelador e assessor do Show Medicina, já motivo de outras postagens desse site), o Abel (alguém, seguramente, ainda escreverá sobre o “Dono do nosso Bar”) e o irascível Albino, mote desse texto.

Inicialmente, um pouco de história:

1913 – 1941: havia o Departamento Esportivo do CAOC – (D.E.C.A.O.C.)

1928 – Fundação do clube do D.E.C.A.O.C. (no mesmo local onde estamos até hoje – Rua Artur Azevedo nº 1)

1932 – Inaugurado o ginásio poliesportivo e, alguns anos mais, construída a piscina (não sei a data exata, mas consta ter sido a segunda da cidade de São Paulo)

1941 – O D.E.C.A.O.C.  transforma-se oficialmente na Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (A.A.A.O.C.)

1964 – A.A.A.O.C. reconhecida de Utilidade Pública (coincidiu com o ano de nossa admissão e com a perda do Albino)

Assim, nosso contato com Albino Carramão das Neves foi curto, posto que faleceu alguns meses depois de nossa entrada na FMUSP, mas intenso para os que frequentaram a nossa amada Atlética. Ele estava muito longe de ser um cavalheiro, um fidalgo, alguém que primasse pela boa educação e pelo fino trato… Muito pelo contrário: era um terror, sobretudo para os calouros, perseguidos por ele, para que pagassem a “taxa de utilização da Atlética”, coisa inventada por ele e que, hoje, é motivo de riso, mas à época pressionava aos recém entrados.

Era uma figura emblemática – o mais fanático torcedor que já houve, quando se fala nas cores de nossa gloriosa MED, além de sua dedicação doentia pela nossa praça de esportes. Ele agia como o proprietário de toda aquela área e o “manda-chuva” de tudo que fosse relacionado com ela. Para auxiliar na sua guarda, sempre portava uma velha arma… os comentários eram de que nunca havia dado um tiro e, que se o fizesse, certamente falharia. Ele ficava louco quando nós o aconselhávamos a “limar a alça de mira, para que não o machucássemos ao introduzir o cano do revolver….” (KKKK!).

Para mim, aquele nosso glorioso 1964 teve um dia histórico ao lado desse “bom velhinho”: foi num domingo, com meu Fusca vermelho `63, eu o apanhei, com os uniforme e as bolas de voleibol e fomos ao MED-ITA, em São José dos Campos; naquele pequeno carrinho, foram ainda meus amados parceiros do SHOW e do Voleibol, o saudoso Luiz Plinio “Mixirica” e o Xará Verani. Na estrada, demos gostosas gargalhadas com as peripécias contadas pelo Albino (sobretudo as “aprontadas” que ele ajudou a dar, contra o Mackenzie, como a soltura de um pequeno jacaré ao lado goleiro do adversário, quando da partida de polo aquático numa MacMed!)

Em setembro do mesmo ano, em plena XXX MACMED, ele saiu sozinho pela noite da Teodoro Sampaio; não sei dizer se foi comemorar uma vitória ou, mais provavelmente, afogar as mágoas por outra derrota… foi atropelado e não resistiu aos ferimentos. Tinha 79 anos de idade. Que descanse em paz!

Foi perpetuado em bronze, em tamanho natural, e até hoje lá está, como guardião de sua amada ATLÉTICA!

 

2 comments

  1. admin 9 janeiro, 2021 at 11:41 Responder

    Texto escrito por Ivanilde Rosaria Milito, em 01/05/2007
    Extraido do site da 46ª https://www.turma1963fmusp.med.br/

    “Eu me encantava com tudo: O CAOC, O PORÃO, as aulas, os colegas. Depois o Show Medicina, a Mac-Med, o Dia do Pindura, quando pela primeira vez fui a um restaurante (O Dinho’s da Alameda Santos). Teatro e tantas outras coisas. Mas o que mais adorei mesmo, foi a Atlética e, principalmente, a sua piscina. Iria realizar o sonho de aprender a nadar. Me sentia muito importante por poder frequentar um clube. Foi quando conheci o Sato e sua filosofia. Mas conheci também o Albino, e esse era o problema. Eu sentia medo dele e seus palavrões. Quando queríamos nadar fora do horário ele xingava muito. O que fazer? Eu queria frequentar a piscina, mas não gostava dos palavrões. Foi aí que tentei me aproximar dele, levando pequenos presentes (vinho, um docinho, um queijinho); e assim, fui ficando amiga dele e gostando dele. Ele tinha lindos olhos azuis e um grande carinho por todos nós. Que pena que ele escondia isso. Esta foi a GRANDE LIÇÃO que aprendi com o Albino. Quando amamos o ”monstro’,’ o PRÍNCIPE que está escondido, APARECE! Ele nunca mais falou palavrão quando eu estava perto.”

  2. Eduardo Verani 9 janeiro, 2021 at 12:34 Responder

    Muito bonito o texto sobre o Albino . Participei de seu sepultamento , no Araçá , depois que passou alguns dias na 4030 do PSC , por ter sido vítima de um atropelamento , em plena semana da Mac Med . Daniel Pinto , da 46ª , emocionou a todos quando , ao baixarem o caixã de , gritou , emocionado : “ Português… português , que brincadeira é essa que está fazendo conosco ; volta já para a Atlética , esqueceu lá seu cachimbo e revólver . Ah , português , nos deixando logo esta semana “ , e olhando para todos nós disse , chorando : “ Em tantos anos de Mac-Med , nunca fomos tão derrotados ” . Eu , calouro , fiquei emocionado , e percebi que havia entrado numa grande escola , onde a excelência do conhecimento era aliada a demonstrações de grandes emoções .

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