segunda-feira, dezembro 30

A ida a Montevidéu e Buenos Aires/1964, Roberto Cury (complementos de Eduardo Berger)

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Em Julho de 1964, férias do primeiro ano da faculdade, nossa turma promoveu uma viagem ao sul, indo a Montevideo e a Buenos Aires. Temos uma pequena dúvida quanto aos organizadores: Berger e Talans ou Adura ou Henrique (?).
Viajando, além dos colegas da 52ª, agregadas, a Ceci Mendes Carvalho Lopes, do 4º ano – 49ª turma, e uma sua colega (Neusa?): e mais, o Eulógio Martinez, irmão do Carlos Alberto, na época segundanista da E.P.M., e um seu colega de turma, Mirto Prandini; salvo engano, o Rubens Brandão, da Santa Casa, que viria a ser marido da Clara, colega da 52ª que veio transferida ai pelo nosso 4º ano (mais alguém?).

Contratou-se uma empresa de transporte, a “Rápido Iguazu”, situada numa “portinha de dois metros” da Rua Florêncio de Abreu, cujo proprietário era um paraguaio – creio que só tinha um único ônibus, na verdade um caminhão encarroçado.

A primeira surpresa foi que, ao colocarmos nossas bagagens nos maleiros do ônibus, observamos que eles eram tão rasinhos, que não coube nem a metade! E aí viajamos com malas em todo o corredor, e  precisávamos escalar pelos braços das poltronas para não pisoteá-las! A segunda surpresa é que o tal dono da empresa viajou conosco, ao lado do motorista, sentado em cima do motor (?!), até a fronteira do Uruguai… muito incômodo, muito esquisito! Mais uma terceira constatação surpreendente: trafegamos pela recém inaugurada Rodovia Regis Bitencourt a “passo de tartaruga”, já que os demais ônibus nos ultrapassavam com se fossem verdadeiros fórmula um! Quando estávamos no meio do Estado do Paraná, quebrou o feixe de mola traseiro do ônibus, por sobrecarga, seguramente… Descemos todos do ônibus, também as malas do corredor. Ficamos impressionados com um “alemãozão” de macacão, grandão, de uns vinte e poucos anos, que pegou uma enorme viga e ergueu a traseira do ônibus, ancorando a viga no ombro. Consertaram o feixe de molas e seguimos viagem.

Paramos para jantar em Mafra, Santa Catarina – era uma noite muito gostosa, com bastante gente bonita na rua… Sempre alertas, os “Don Juans” da turma já se engraçaram com as gatinhas que faziam footing na pracinha,  e alguns dos nossos colegas, “engraçadinhos”, passaram a chamar os marmanjos da cidade de “Mafroditas” – aí, a coisa ameaçou de esquentar feio e o risco de conflito ficou grande – fomos entrando rapidinho para a segurança do ônibus e partimos, rumo ao sul, noite adentro.
Chegando em Porto Alegre, ficamos num hotelzinho de terceira e, no dia seguinte, seguimos viagem – havia dois motoristas do ônibus que se revezavam, muito solícitos.
Ao chegar na fronteira, cidade de Jaguarão – RS, o Uruguai havia fechado a fronteira por conta de alguma pendência política da época (algo relacionado com o regime militar do Brasil?). Chegamos lá logo cedinho, em seguida chegou mais um ônibus da Faculdade de Filosofia da USP e, depois, mais um da Escola Politécnica – todos ficaram retidos. Os responsáveis pelas transportadoras, unidos, iniciaram as longas tratativas com Brasília, por telefone, e finalmente, no fim da tarde, a fronteira foi aberta e partimos; nova surpresinha: sem o dono do ônibus… (SUMIU! Ele não era mais necessário?).
Durante todo aquele dia, até pela tensão e ansiedade de continuar a viagem, o povo não parou de beber vinho em garrafões… tinha que dar besteira: o ônibus atravessou a ponte sobre o rio Jaguarão, não estava frio, as janelas do ônibus abertas… de repente o pessoal lá de trás começou a sentir chuva entrando pela janela – muito estranho, não chovia. Era o Ciro Berni, m****** pela janela, ajoelhado na poltrona lá da frente!
Umas horas depois, já perto da meia noite, chegamos a cidade de Melo, nordeste uruguaio. Tava todo mundo morto de fome! Por sorte, achamos um restaurante aberto na pequena cidade, e o dono se propôs a fornecer bife com papas fritas. Para os primeiros de nós a receber o prato, o bife tinha um palmo de diâmetro, diâmetro este que foi diminuindo. diminuindo, até que os últimos ficaram praticamente sem nada…
O bom desse episódio é que houve ali um ambiente muito amistoso, alguns homens daquele local muito receptivos, já meio “alegres”, efeito da “caña” – Berger e Martinez se pegaram num papo com um tal Martins, que ao saber do sobrenome espanhol do Carlos Alberto, acentuava na pronúncia paroxítona: “-Yo, Martins! Usted Martínez! Usted mi hermano, mi casa es su casa!” E o Martinez, dizia: -Usted Martins! Yo Martínez! Su casa és mi casa! Su mujer és mi mujer!” Morremos de rir, mas não saiu briga, ele riu junto, tudo em nome da “caña” KKKK!
Enfim, mais uma etapa e chegamos a Montevidéu, um pouco antes do amanhecer. Estacionamos o ônibus em frente ao prédio da Universidad de la República, na avenida 18 de Julio.  Havíamos acertado hospedagem de cortesia numa entidade das forças armadas (Escola Naval Militar? Cassino dos Oficiais?), mas nos informaram que tal espaço fora cedido a outro grupo brasileiro, por força de termos chegado com muitas horas de atraso (mais uma encrenca provocada pela “maravilha” de transporte que tivemos). Ficamos horas esperando uma solução, ao relento, um frio de arrepiar! Fica o registro: o vento que vem do polo sul, “seguramente”, é canalizado TODO para a Avenida 18 de Julio!! Aí, ele entra nos ossos e congela a alma!!
Enfim, conseguiram um alojamento para a gente, num quartel, em Camino Maldonado, que ficava a alguns quilômetros da capital. Lá chegando nos conduziram a um prédio onde, no andar superior, havia um enorme salão, com janelas dos dois lados, muitas sem vidro e com camas de campanha, uma encostada na outra. Nos forneceram um poncho, capas de lã bem grossa, pesadíssimas, que nos protegeram do frio da noite. No andar de baixo havia um cubículo com uma torneira e um cano na parede de onde saia um jato de água gelada que era onde tomaríamos banho. Poucos de nós se aventuraram!
Fomos em ônibus regular, eu, Otávio, Martinez e seu irmão Euloginho a Montevidéu e  encontramos a Associação Cristã de Moços (lá A.C.J.); por um preço módico, forneciam armário, toalha, sabonete e uma ducha quente maravilhosa! O melhor banho da viagem toda – logo contamos para os demais do grupo e a A.C.J. teve mais diversos visitantes dos nossos, inclusive usufruindo de piscina aquecida!
Mais um fato pitoresco em Montevidéu – conhecemos um estudante de direito que nos convidou para conhecer um bordel. Lá chegando, uma senhora abriu a porta da rua, entramos num salão, lá estavam as donzelas – a senhora anunciou que elas “haciam de todo”… e descreveu todos os “atos” que praticavam, com tamanhos detalhes, que “fariam corar um frade de pedra”! Um dos nossos resolveu experimentar uma gaja e, ao sair, nos contou que ela lavou-lhe “as partes” com água fenicada antes de qualquer coisa!. Muito saudável…
Com todo o grupo, fizemos passeios a Punta del Este e lsla Gorriti, logo em frente a seu porto; fomos também à linda cidade-balneário de Piriápolis, para um almoço muito legal.
Finalmente, demos adeus a Montevidéu e, com nosso ônibus paraguaio, fomos para Colônia do Sacramento, nas barrancas do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires. Aí, a SURPRESA MAIOR!! Colocamos as bagagens comodamente nos grandes maleiros! Abertas suas portas de ambos os lados do veículo, eles iam de um lado até o outro! O canalha do dono do ônibus usou-nos para fazer contrabando, sabe Deus de que! Armas, talvez, já que era coisa muito pesada! Nunca saberemos… mas os tupamaros, em seus anais, talvez louvem os Ilustres membros da 52ª Turma da Faculdade de Medicina da USP.
De Colônia, atravessamos o Rio da Prata num barco rápido chamado aliscafo, seu interior parecia o de um avião, com lindas comissárias de bordo – logo as apelidamos de “Hidromuchachas”… Chegando em Buenos Aires ninguém quis saber de esperar por alojamento nenhum. Alguns se hospedaram no hotel Adriático pertinho da estação de trens, outros no Hotel Royal.
Uma noite fomos jantar no bairro da Boca, restaurante italiano, com Tarantella e pizza; outra noite fomos a boate Tabaris, assistir o mais belo striptizi, ao som do tango – muito bonito! A boate lotou com um pessoal que tinha vindo no navio Rosa da Fonseca, em excursão. Bonitas moças!  Encontrei no meio delas um primo meu, Samir Razuk (mais tarde, diretor financeiro da Rede Bandeirantes.
A volta para casa transcorreu tranquila e rápida, com o ônibus bem mais leve, até São Paulo.
Fim de papo!
HOTEL EM BUENOS AIRES
Plaza Virgilio – Montevidéu
Monumento La Carreta – Montevidéu
Universidad de la República –  Avenida 18 de julio – Montevidéu
O “dormitório” do quartel de Camino Maldonado – Uruguai
Com os ponchos do quartel de Camino Maldonado – Uruguai

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