PRÓLOGO DO EDITOR: Nosso colega, Joel Faintuch, nos brinda com um interessante relato histórico – aliás, podemos afirmar que fazemos parte da própria história da medicina: estudamos na década de ’60, a poliomielite ainda estava ativa em nosso país, e o Hospital das Clínicas mantinha no subsolo do prédio da ortopedia, uma grande unidade, exclusiva para tratamento de doentes em fase aguda e sequelados!
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Não sei se todos grupos de nossa turma circularam pelo porão da Ortopedia.
A minha turma foi conduzida, quando tivemos as escassas aulas da especialidade no curso médico. Mostraram-nos uns 4 ou 5 pulmões de aço, tanques metálicos que abrigavam adolescentes e adultos jovens, vítimas graves de poliomielite.
Eram tetraplégicos, só se movimentavam do pescoço para cima. Todo o corpo permanecia abrigado no tanque, com exceção do segmento cefálico, exteriorizado sobre pequena almofada. Havia um largo diafragma de borracha, hermeticamente ajustado sobre o pescoço, que se movia ritmicamente para cima e para baixo. Com isto a pressão intratorácica também “ciclava”, possibilitando passivamente a entrada e saída de ar. Foi inventado em 1929, por Philip Drinker, professor da Harvard.
A Ortopedia não era uma tortura. Os funcionários eram carinhosos e substituíam a família, muito vezes omissa e ausente. Alguns inclusive ministravam aulas de alfabetização, e penduravam livros no pulmão de aço, virando as páginas para eles. A alimentação e higiene pessoal eram bem cuidadas. Consequentemente, alguns sobreviveram até recentemente (4- 5 décadas), e há uma autobiografia recentemente publicada por uma delas.
Sabe-se que alguns recuperam tardiamente pequena parcela dos movimentos, e conseguem se desmamar do pulmão de aço (porém não conduzir vida independente). Óbitos sucedem também, inevitavelmente. Não estou seguro porém creio que há tempos não há mais pacientes no porão da Ortopedia (e talvez nem mesmo pulmões de aço como peças de museu).
Todavia o aparelho foi modernizado e ainda existe. Recentemente a imprensa internacional noticiou sobre um americano nascido em 1946, Paul Alexander, que em 1952 contraiu a infecção viral. Depois de décadas conseguiu se desmamar por períodos, inclusive viajando de avião, publicando uma autobiografia e se tornando uma espécie de celebridade. Incidentalmente, ele realizou todos os cursos à distância e se graduou advogado. Depois de velho, necessitou retornar ao aparelho, onde ao que consta ainda permanece.
Na época da nossa graduação não existiam opções de ventilação não-invasiva para uso doméstico (ainda hoje são dispendiosas e complicadas). As invasivas por sua vez, dependentes de traqueostomia, associavam–se a infecções frequentes e curta sobrevida. Os poliomielíticos literalmente residiam na Ortopedia, por toda vida.
A grande epidemia mundial de polio ocorreu em 1952- 1953, e fez vítimas em todo planeta, inclusive entre brasileiros. Porém em nosso país a vacina tardou a chegar e ser amplamente distribuída, sucedendo frequentes casos mesmo na década de 1960, quando já existiam as vacinas Salk (injetável– 1953), e Sabin (oral- 1960).
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APÊNDICE (informações e imagens obtidas na internet)
No dia 31 de julho deste ano (2023), o Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo fará 70 anos de existência. Na década de ’40, São Paulo, em pleno desenvolvimento, com tráfego intenso e construções, deixava os corredores do Hospital das Clínicas repleto de pacientes acidentados no cotidiano da cidade em plena expansão.
Na década seguinte, a cidade vivenciava uma epidemia de poliomielite (paralisia infantil) e o próprio Presidente da República, Getúlio Vargas, perdeu um filho vítima da doença. A nova realidade fez surgir a necessidade da construção urgente de um hospital que atendesse os casos de trauma e paralisia infantil e, por isso, atendendo um pedido do Prof. Dr. Francisco Elias Godoy Moreira, na época diretor clínico do HC, Getúlio Vargas autorizou a construção do maior hospital especializado em ortopedia do Brasil.
Em 1953 foi inaugurada a Clínica Ortopédica e Traumatológica – a primeira clínica especializada a deixar o prédio do HC, onde ocupava dois andares – com uma área de 20.000 m2, num edifício de 10 andares, um anexo de três andares, 300 leitos e um dos mais bem equipados do mundo. A unidade de Paralisia Infantil, na fase aguda da epidemia, possuía 50 leitos e era equipada com pulmões de aço, necessários ao tratamento dos pacientes com complicações respiratórias
A moléstia foi erradicada no Brasil há 34 anos último caso em 1989) – isto foi possível graças a campanhas massivas e continuadas de vacinação! O Brasil é considerado uma país muito avançado em imunizações. Diante do risco de reaparecimento da polio, o nosso sistema de saúde recebeu um sinal de alerta das autoridades nacionais e internacionais.
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Realmente, a poliomielite é uma doença muito triste, mas ainda existem pessoas carinhosas e delicadas.
felizmente existem vacinas preventivas eficientes no nosso país, e são altamente difundidas e oferecidas.
Por isso a importância de deixar a vacinação em dia.
PAIS, VACINEM SEUS FILHOS!
É importante.
Para país reticentes, uso o exemplo da pólio para justificar a minha insistência na vacinação. Digo que, se os seus filhos pegarem a doença, vão viver o resto da vida com sequelas, e que o responsável são eles, os pais. Querem ser os responsáveis por transformarem o SEU FILHO NUM SEQUELADO? Em geral, os pais cedem. Só tive um pai que não se convenceu e a mãe se separou dele, vacinando o filho.
Bom era o tempo que a carteira de vacina era obrigatória para a matrícula na escola.