A 52ª, durante o curso, conviveu com uma época de grande turbulência política e social em nosso País – pudera, ela “nasceu” em 1964, poucos dias antes do advento da revolução (a maioria prefere chamar de golpe) que implantou um novo regime político, organizado e gerido pelos militares. Muitas histórias, certamente, os colegas guardam de então. Vou lembrar de uma…
O movimento universitário representava um forte elemento de antagonismo ao governo, razão por que o poder constituído procurou substituir as entidades estudantis existentes por outras, controladas pelo Ministério da Educação. Para tanto, promulgaram a Lei nº 4.464, de 9 de novembro de 1964, conhecida como “Lei Suplicy” (o ministro da Educação era Flávio Suplicy de Lacerda); com ela, a União Nacional dos Estudantes (UNE), bem como as estaduais (UEEs) e os centros acadêmicos, passaram a ser considerados ilegais, clandestinos. A revolta da absoluta maioria da classe estudantil foi a consequência óbvia, até porque todos conhecem a natural ojeriza dos jovens em aceitar imposições arbitrárias. Era natural que ocorresse.
Não foi diferente em nosso Centro Acadêmico, o Oswaldo Cruz, entidade cujo nome, em sua simples enunciação, já trazia aos jovens corações fmuspianos, a sensação de orgulho, embasado nas tradições, nas velhas batalhas vencidas nos “cinquenta e pouco anos de nossa existência”! O CAOC era o legítimo órgão representativo dos alunos da FMUSP!
Aí, a diretoria da faculdade convocou eleições para o diretório acadêmico Oswaldo Cruz… (o próprio nome soava, no mínimo, esquisito – “diretório”, para não dizer espúrio) e, prontamente, o CAOC convocou assembleia geral extraordinária para que nos posicionássemos. O resultado foi o óbvio esperado: repulsa às eleições e à lei Suplicy! Decidiu-se, por aclamação, que os alunos deveriam boicotar a dita convocação e que ninguém deveria se inscrever para concorrer a tal pleito.
Passaram-se os dias, todos fiéis à decisão de assembleia, ninguém se inscrevia: mas, alguns segundos antes de se encerrar o prazo, eis que estoura a bomba: uma chapa se apresenta! Era encabeçada pelo Francisco Tancredi (51ª) e tinha em sua composição João Gilberto Carazzato, João Paulo Smith Nobrega (50ª) e Marcus Aurelius Albuquerque Ranoya (52ª), entre outros. A surpresa e a indignação foram absolutas e o prazo de inscrição estava encerrado! Chapa única inscrita, composta pela “fina flor da direita da FMUSP”!
fotos do dia
Naquele dia, dei uma carona ao mermãozinho querido, Ranoya – foi um longo papo, estacionado em frente ao Conjunto Kpwarick, na rua Castro Alves (Aclimação), sua residência; o repreendi severamente: “como ele podia ter feito tamanha afronta à causa estudantil”?, ao mesmo tempo em que mostrava minha preocupação, “quantos riscos não estaria ele correndo, enfrentando daquela maneira a fúria dos colegas”?, e outros arroubos juvenis por influência das coisas da época.
Na sequência, nova e agitadíssima assembleia do CAOC e uma proposta veemente é encaminhada a mesa, propondo a expulsão sumária dos componentes da dita chapa! Os signatários dessa proposta? Não me recordo dos demais… além de mim! Claro que a turba enfurecida aprovou dita expulsão de imediato! E eu, legitimo representante da “esquerda festiva”, continuei amigo incondicional e companheiro de todas as atividades, do “quem expulsei” Ranoya – seguimos de mãos e “corações dados” pela vida (todos conhecem a força do vínculo que nos uniu, até sua prematura e irreparável perda em 11 de agosto de 2013, após quase 50 anos de ”união estável”.
Para mim, o trauma maior dessa aventura foi no relacionamento com o Giba (Carazzato). Ele foi um dos melhores voleibolistas que eu vi jogar em todos os tempos; foi meu técnico e meu capitão na equipe da gloriosa AAAOC – um cara admirável! Quando ele soube da penalidade que lhe impuseram, a primeira pergunta dele foi: “Entre os signatários da proposta, havia alguém do esporte”? A resposta o chocou profundamente: “não somente do esporte… do VOLEIBOL, o Berger”! QUIOSPA!!! Giba ficou louco! Jurou nunca me perdoar! Falou: “Enquanto eu estiver na chefia, esse FDP nunca mais entrará na quadra”! Mas, o coração dele era grande demais – na Med-Med de Ribeirão Preto, alguns meses depois, fidalgo que era, já tinha me perdoado e me escalou. Ganhamos fácil e quem fechou o jogo fui eu, com dois pontos de bloqueio. Trocamos um abraço de perdão e reconhecimento mútuo no final da partida.
Salve a amizade e a FMUSP! E sempre juntos na 52ª!
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