Em 1962 estudei como interno no Colégio Arquidiocesano, onde conheci o Cabral e o Murilo no time de futebol. No ano seguinte, fiz o cursinho “Nove de Julho” e à noite o 3º Colegial, no Colégio Estadual Professor Macedo Soares na Barra Funda.
Lá fui colega do Faintuch. Ele respeitava o “shabat” e não fazia nada a partir do pôr-do-sol de sexta até o anoitecer do sábado. Assim, fiz para ele algumas provas nas sextas. Já morando numa pensão no bairro do Paraíso, iniciei o cursinho preparatório para o “CESCEM”, com 100 vagas para a FMUSP e 70 vagas para a Faculdade de Ciências Médicas de Campinas , hoje UNICAMP.
No primeiro dia de aula, na Liberdade , ao lado da Igreja dos Enforcados, cheguei atrasado. Na entrada da sala, parei procurando um lugar. Aparentemente lotado. Observei então uma mão levantada, indicando um lugar vazio. Sentei, agradeci e assim começou uma fraterna amizade com o Mario Egashira de quase 55 anos.
Logo no intervalo para o cafezinho, trocamos credenciais: Roberto Anania – de Barretos; Mario Egashira – de Araçatuba. Puxa, cidades da pecuária, do boi. Não éramos boiadeiros, mas o papo rolou. A partir de então e até o fim do ano, meu lugar estava reservado. O Mário sempre chegava antes.
Depois de alguns meses o Mário me perguntou se conhecia o Parque Shangai, no Parque Dom Pedro. Era um grande e famoso parque de diversões de São Paulo na ocasião. Como não conhecíamos, lá fomos nos divertir: roda gigante, tiro ao alvo, carrinhos elétricos de trombada, etc…
Logo percebemos que estávamos sendo roubados. Comprávamos 2 ingressos e cada vez um pagava. O vendedor contava e dobrava o troco. Descobrimos que a última nota era subtraída. Comprovada a fraude, avisamos um guarda, que se prontificou a nos acompanhar. Como que por mágica com o guarda ao lado, o troco estava sempre correto. Tentamos mais uma vez e nada. Os caipiras tinham sido enganados. Até o guarda municipal participava da roubalheira. Ficamos com medo e demos no pé. A aventura do Parque Shangai acabou ali e o parque sucumbiu alguns anos depois. São Paulo não tem mais grandes parques de diversão. No ano passado estive na Dinamarca e fui ao Parque Tivoli, em Copenhague, que a maioria da turma pode desfrutar na memorável viagem de 1968.
Quando saiu o resultado do vestibular, com o Dr. Dante anunciando na escada, estava lá com o Mário. Combinamos que se entrássemos na Faculdade, pularíamos o muro do Araçá. Também fui classificado, mas como 102º e fiquei em 1º de Campinas. Na Faculdade o 100º e 101º empataram. Não fomos ao cemitério!
No ano seguinte quando fui recebido pelo saudoso Lourival – representante da classe – como primeiro transferido oficialmente pela Faculdade, o primeiro a me abraçar foi o Mário.
Enfim “TODOS JUNTOS NA 52a TURMA”.
MOMENTO MUSICAL: CANÇÃO DA AMÉRICA (Milton Nascimento, e Fernando Brant)
Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. Assim falava a canção que na América ouvi, mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir; mas quem ficou, no pensamento voou, com seu canto que o outro lembrou.
E quem voou, no pensamento ficou com a lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção. O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Pois, seja o que vier, venha o que vier Qualquer dia amigo eu volto a te encontrar Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.
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Como é bom saber destas histórias. Anania, muito obrigado! (Decio Kerr Oliveira – 2017)