Cinco de fevereiro de 2021, ontem. Realizamos a segunda fase da prova de seleção à residência médica, na área de cirurgia geral, no “Hospital Edmundo Vasconcelos”. Tenho participado desse processo anualmente, há mais de 40 anos.
Com a criação da Comissão Nacional de Residência Médica, em 1977, o credenciamento dos programas de residência tornou-se obrigatório, e as exigências para obtê-lo poderiam ser consideradas inatingíveis, sobretudo num Hospital pequeno e privado como o nosso. Foi travada uma grande batalha e, contrariando a previsão de muitos colegas amigos (e “não amigos”), o antigo MEC nos credenciou nas 3 áreas que pleiteávamos -Pediatria, Clinica Medica e Cirurgia Geral – no ano de 1981.
Ao longo dessas décadas, contribui na formação de centenas de jovens colegas (atualmente, boa parte, com mais cabelos brancos do que eu). Observar o sucesso deles, mais que um “prêmio de consolação” para mim, por não ter podido seguir carreira universitária, é um “Grande Prêmio” que obtive, e tem me propiciado alegrias desmedidas.
Por força da pandemia, nós que recebíamos anualmente cerca de 150 candidatos para para as 4 vagas oferecidas em cirurgia, tivemos esse ano apenas 65 e a prova escrita foi realizada on-line por empresa especializada.
Como de hábito, convocamos os melhores classificados, 5 a 6 por vaga que, via de regra, eram de Botucatu, Sorocaba, Federais do Rio e de outros estados, das três grandes da capital… também, vinham de Marilia, Santos, ABC, Mogi, S.J. do Rio Preto, Jundiaí, OSEC (UNISA); aí, Uninove, Unicid, Santa Marcelina, UNAERP… e com cada “p… notão” – desempenhos ótimos! Analisamos seus consistentes e bem elaborados currículos, observando novos tempos, realmente!
Voltando à prova de ontem: no anfiteatro do Hospital, as 8 questões de clínica cirúrgica sendo projetadas com multimídia, seis minutos cada (imagens radiológicas convencionais, de ultrassom e de tomografia; segmentos de clipes de video-cirurgia; fotos de pacientes com patologias visualmente identificáveis) e os 20 candidatos, mascarados e afastados convenientemente, atentos a escrever as respostas.
Em seguida, um a um, os chamamos para a entrevista. Esse momento final da seleção, “olhos nos olhos”, sempre proporciona momentos de rara emoção! “Contrapontos” de sentimentos se fazem presentes e é difícil explicar… Entretanto, ao longo de tantos anos… Quantos sonhos, ilusões e desilusões nas cabeças dos jovens, histórias de vida desfilam à frente de nosso olhos, nossos ouvidos; quanta dificuldade para escolher quem fica, quem sai – as notas são muito próximas umas das outras – não fazer injustiça é um propósito árduo a ser cumprido.
Apesar do exposto, acreditem, é um momento inspirador, “lúdico”! Por nós, ansiosamente esperado, mesmo!
Não foi diferente desta vez… mas houve um plus – pelo menos pra mim.
Em frente à nossa banca (a Dra Ligia Maria M. V. Guimarães, os Profs Drs Luis Fernando Paes Leme e Leonardo M. Del Grande e eu), está o jovem “RM”, graduado, na Faculdade de Medicina de Jundiaí em 2020 (47ª turma), primeiro aluno de sua classe durante todo o curso, ganhou diversos prêmios, entre os quais, o de melhor aluno de sua turma nas áreas cirúrgicas – o nome dessa láurea? Está na foto a seguir:
Claro que foi impossível não se emocionar, se orgulhar, naquele momento! Enchi o peito: “Roberto Anania de Paula é meu colega de turma, a gloriosa quinquagésima segunda da FMUSP!” Não falei, mas fiquei com vontade de completar: “…e ele me chama de PARCEIRO”!
Aí, antes de se despedir, RM me disse: -“Doutor, então o Sr deve ter conhecido o meu ‘Vô’, ele também foi da USP, na mesma época, e fez residência médica na clínica do Professor Vasconcelos”. Olhei de novo para o diploma… Rodrigo Moisés… “caiu a ficha”! RONALDO MOISÉS (50ª), o querido e saudoso amigo “FICO” – o eterno cortineiro do Show Medicina. Passa um filme em segundos! Aguenta Coração!
Alguns outros colegas da Casa de Arnaldo também se radicaram em Jundiaí, além dos citados nessa matéria. Salvo engano, Angelo Ferrari, Antonio Cavalcanti, Eduardo Neme…
Da 52ª turma: Noragi na Pediatria, Nestarez na G.O. e Pereira Barreto na Clínica Médica, também contribuíram, no inicio das atividades da FMJ
EPÍLOGO:
Destaco alguns tópicos, compilados no site que conta a “História dos 50 anos da Faculdade de Medicina de Jundiai”:
“Em 12 de março de 1968 foi criada a Faculdade de Medicina de Jundiaí, com enorme influência da nossa FMUSP, o berço de sua formação, donde vieram notáveis, eminentes, Professores. Só pra exemplificar:
Prof. Dr. Eugênio A Bueno Ferreira e Prof. Dr. Paulo D. Branco – Cirurgia
Prof. Dr. Sérgio T Moura Campos – Técnica Cirúrgica
Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz – Microbiologia
Prof. Dr. Ricardo Veronesi – M I
Prof. Dr. Roland Veras Saldanha – Nefrologia
Prof. Dr. Wilson Cossermelli – Reumatologia
Prof. Dr. Álvaro da Cunha Bastos – Ginecologia e Obstetrícia
Prof. Dr. Antônio Monteiro Cardoso de Almeida – Patologia
Prof. Dr. Antônio Sesso – Histologia
Prof. Dr. Armando de Aguiar Pupo – Endocrinologia
Prof. Dr. Gilberto Menezes de Góes – Urologia
Prof. Dr. João G Maksoud – Cirurgia Pediátrica
Prof. Dr. João Tranchesi – Clínica Médica
Prof. Dr. José Eduardo C Martins – Dermato
Prof. Dr. Olavo M Calasans – Anatomia”
“No início dos anos 70, a cirurgia vivia grandes avanços, com a nutrição parenteral, o conhecimento das alterações metabólicas pós-operatórias, o atendimento ao politraumatizado e as unidades de terapia intensiva”, explica o professor Roberto Anania de Paula. “Foi neste cenário que os professores Paulo Branco, Eugênio Ferreira e Sérgio Moura Campos, do Hospital das Clínicas da FMUSP, vieram para a Faculdade de Medicina de Jundiaí. A partir de 1972, também passei a fazer parte desta equipe.”
“O passo seguinte foi a implantação do Pronto-Socorro Municipal, sob responsabilidade da FMJ, sendo decisiva a participação dos doutores Roberto Anania de Paula, Mamed Hussein, Oswaldo Tempestini, entre outros.”
(Pra quem quiser saber na integra, pode acessar 👉🏽 https://fmj.br/wp-content/uploads/2019/11/50-Anos-FMJ_Arquivo-Digital_compressed.pdf.pagespeed.ce.GChwiARWQn.pdf –
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Se tenho mais afinidades com a querida Jundiaí? Minha amada primogênita, Débora, é lá radicada há 25 anos; reside num condomínio espetacular e tem profícua atividade profissional em seu consultório (é psicanalista). Sua filha e minha neta mais velha, Paola, acadêmica de Medicina (indo para o 4º ano, em Bologna., Itália) é jundiaiense nata – acompanhei sua “vinda à luz”, há quase 22 anos, na companhia de um colega muito querido: o “Parceirinho”, Roberto Anania de Paula (Maternidade Paulo Sacramento).
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I 💙 JUNDIAI!
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Querido parceiro, vc teve e tem uma importância muito grande na formação de cirurgiões – conhecimento, didática, ética e técnica cirúrgica – jovens admitidos no programa de Residência de Cirurgia Geral, do Hospital Edmundo Vasconcelos. Sou testemunha dos inúmeros egressos da Faculdade de Medicina de Jundiaí e de outras faculdades, que se especializaram no seu serviço e que praticam a Medicina e a arte de operar em diferentes cidades deste nosso país.
Logo depois da aposentadoria compulsória, do cargo de Professor Titular de Cirurgia Geral, da Faculdade de Medicina de Jundiaí, fui agraciado pela Egrégia Congregação com o Título de Professor Emérito da instituição. Tempos depois o Departamento de Cirurgia me honrou com a denominação de “Prêmio Dr. Roberto Anania de Paula”, conferido ao melhor aluno de cada turma nas áreas cirúrgicas.
Assim, fiquei muito feliz e honrado, que o melhor aluno da 47a Turma da FMJ, tenha escolhido o seu serviço para exame de residência. Isto mostra mais uma vez a importância do Programa de Residência em Cirurgia Geral, sob sua orientação. É a 52a Turma da FMUSP. fazendo história na formação cirúrgica paulista.
Aproveito o ensejo para uma informação adicional sobre Jundiaí e a FMJ.
Quando o Dr. Jayme Rodrigues, fundador da Faculdade de Medicina de Jundiaí e seu primeiro diretor, convidou os Profs. Drs Paulo Branco, Eugênio Ferreira e Sérgio de Moura Campos, para o ensino da cirurgia, eles foram também indagados a respeito de um cirurgião jovem, para completar a equipe e cumprir determinados objetivos na cidade. O Dr Jayme me procurou no HC, a respeito da indicação, e prontamente respondi: “-Se os Professores me indicaram, quem sou eu para dizer não”. E assim, moro aqui até hoje.
A FMJ fora criada em 1968, com uma contra-partida de implantar e administrar um Pronto Socorro Municipal na cidade. Esta era minha função. Na ocasião, Jundiai dispunha do SAMDU – serviço de atendimento domiciliar de urgência – e só. Em 1972, o PS entrou em funcionamento e fui um dos primeiros diretores. No PSC, Anania, Mammana, Mamed, Lamardo e Tempestini foram os primeiros plantonistas. A 52a Turma em ação, na urgência e emergência cirúrgicas.
Hoje, o Pronto Socorro Municipal atende um aglomerado urbano de 850.000 pessoas, e é referência de competência e eficiência regional.
Parceiro amigo
Sua generosidade me comove.
Tenho plena consciência que “faço e fiz o meu melhor”, tanto na assistência aos clientes, quanto na formação de centenas de jovens médicos; também, que “conheci e conheço minhas limitações” em ambos os misteres; o afastamento dos centros universitários, inevitavelmente, faz com que a gente vá “ficando pra trás”… Com tantos avanços no conhecimento e na tecnologia médica, não fosse a atuação dos mais jovens da equipe, certamente eu já teria encerrado as minhas atividades. A “Equipe de Gastro” do Edmundo é excelente – e completa: clinica e cirurgia, video-cirurgia, cirurgia bariátrica, etc.
Outra coisa: que espetáculo, a história da Faculdade de Medicina de Jundiaí – mais ainda, porque ela representa a própria história de sua linda carreira Universitária!
Com o diploma que leva o seu nome em mãos, orgulhosamente, o melhor aluno da 47ª turma da FMJ se apresentou em nosso concurso – saber que ela era neto do “FICO”, foi uma emoção difícil de conter
Imagino. Fiquei também emocionado, saber que o neto do “Fico”, meu grande amigo do futebol fmuspiano, meu incentivador em Jundiaí, recebeu um prêmio cirúrgico da FMJ, que leva minha história.
A formatura este ano foi virtual.
Abraços
Muito bom, Xará, gostei muito do artigo e dos comentarios adicionais do Anania .
Momentos de emoção, coincidências necessárias para coroar uma vida dedicada ao bem.
Parabéns ao aos nossos 2 heróis, Berger e Anania!
Parabéns aos colegas e amigos Berger e Anania. Vcs dignificam e orgulham a nossa turma. Meu aplauso, admiração e reconhecimento. Um grande abraço a vcs,
Parabéns Berger e Anania. É muito bom poder trabalhar já com a sensação de missão cumprida e poder desfrutar destas emoções como premio da competência e dedicação ao exercício da nossa profissão. Um abração procês.
Berger parabéns pelo artigo. Roberto Anania merece mesmo nosso orgulho. A maneira sua de descrever a narrativa é adorável. Segue minha publicação no WhatsApp. e resposta de Anania:
“Querido Anania.
Hoje, lendo “O candidato R. M. ou I LOVE JUNDIAI”, no nosso site, de um tal de Berger (tenho um irmão com esse nome), me emociono ao ver que você, começando pangaré tal como todos nós, virou Prêmio. Caramba, que orgulho, Anania, em ser seu colega e amigo. Grande abraço. O prêmio não é seu, ele é VOCÊ. Como dizíamos na Faculdade, CÁSPITE”!
. Querido La Laina. Obrigado pelo carinho. Vc conhece com muita competência a importância das nossas origens. Fomos criados todos, no “seio” da 52a Turma. Todos como Vc diz: “somos ratos do mesmo porão e do complexo HC” (https://fmusp-turma52.com.br/2018/04/01/genial-mensagem-que-recebi/), e convivemos como irmãos há quase 60 anos. Com nossas identidades, exercemos atividades profissionais, sociais, acadêmicas, intelectuais e humanitárias com muita determinação e amor ao próximo. Está é a razão, Lalá, que todos nossos filhos, netos, que também são da 52a Turma, têm o respeito da sociedade em que vivem. Obrigado meu irmão!