Temos sido pródigos em enfatizar através deste site, o quanto nos sentimos privilegiados pelo nosso passado na Universidade e nesta postagem não fugiremos à regra: a satisfação e o orgulho de ser colega de turma do Filho, a honra e o privilégio de ter sido aluno do Pai!
Professor Luiz Carlos Uchôa Junqueira, notável pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da U.S.P., Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Academia Brasileira de Ciências; fundador e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Biologia Celular e primeiro Presidente da Fundação Carlos Chagas; autor de diversos e reconhecidos livros didáticos, sendo o mais importante, o magnífico Text Book “Histologia Básica – Livro e Atlas”, já na 14ª edição brasileira; traduzido em 17 idiomas e adotado por dezenas de universidades americanas e européias. Esta obra, certamente, faz do Professor Junqueira o autor brasileiro mais lido no mundo, em sua área de atuação.
Poucas pinceladas do quadro que representa toda a obra de nosso grande Professor!
Há ainda um aspecto admirável do Professor Junqueira, segundo a Dra Cláudia Naves Battlehner (70ª turma da FMUSP): ele era portador de uma deficiência visual que deve ter dificultado muito sua vida… Reproduzo, a seguir, o seu pitoresco relato:
“Tenho algumas informações sobre o Prof Junqueira, pois trabalho em seu antigo laboratório (Biologia Celular). Sei que tornou-se Professor Catedrático muito jovem, cerca de 29 anos, e aposentou-se por tempo de serviço (já na época do ICB). Candidatou-se novamente a Titular, ganhou o concurso e ficou no cargo até os 70 anos. Além da superação da pólio e dos sucessos na natação, pasmem… ele era daltônico!!! E isso foi ele mesmo quem me contou! Ele colocava filtros coloridos no microscópio para poder diferenciar as coisas e usava informações alternativas, como forma e características das células e núcleos, e diferenças de contraste, para fazer seus diagnósticos! Achei impressionante! Descobri seu daltonismo num dia em que ele queria me convencer de que olhar usando um filtro verde era muito melhor… Era uma coloração em que os eosinófilos ficavam completamente vermelhos; as únicas coisas vermelhas na lâmina, saltando aos olhos. Punha o tal filtro e ficava tudo como se fossem tons de cinza!!! Aí, ele me contou… e eu tive que dizer que distinguir pela cor era muuuuuito mais fácil!! Era uma figura! Pelo que contam, de difícil relacionamento quando mais jovem. Mas, o conheci perto de se aposentar, muito mais ameno!! De uma atividade científica invejável, publicou até sua morte. É de sua autoria obra muito prestigiada, inclusive com versões em inglês. Quando estive fazendo mestrado na Inglaterra, nunca consegui pegar na Biblioteca… estava sempre emprestada”!
Meu querido Xará, Eduardo Roque Verani, conta: “Junqueirão, pai do Luis Carlos Uchoa Junqueira Filho, nosso colega de turma, saiu da FMUSP ainda aluno, por desentendimento com um professor; terminou o curso na Escola Paulista de Medicina, onde se graduou e, como havia prometido, voltou à FMUSP, venceu o concurso, e tornou-se professor da Histologia. Teve pólio quando criança, recuperou-se com uma enorme força de vontade e tornou-se campeão de natação universitário”. Há uma versão da história (ou estória) que levou à sua transferência “compulsória” para a EPM: teria sido uma lesão que ele provocou na mão do Prof. Alfonso Bovero, com o bisturi (?!), numa discussão na aula de anatomia… Será? Quanto a seu estoicismo, não paira dúvida: apresentar marcha instável pela sequela citada e tronar-se um nadador competitivo, retornar à FMUSP, que praticamente o expulsara, e tornar-se dela um professor respeitadíssimo, já seria o suficiente para admirarmos sua força de vontade.
EPÍLOGO
Apenas para aclarar alguma dúvida: houve diversos ilustres JUNQUEIRAS na história da FMUSP e, curiosamente, um tal Junqueirinha e um tal Junqueirão não tinham relação direta de parentesco!!
Vamos por as coisas em ordem:
- o ANTÔNIO CARLOS CAMPOS JUNQUEIRA, oncologista, ídolo da FMUSP nas antigas Mac-Meds, chamado “JUNQUEIRÃO”, um “quase gigante” de 1,92 m, um baita atleta da turma 32 (1949), foi da seleção brasileira de voleibol – deixou de jogar em ‘64, quando inventaram a “manchete”, que para ele representou uma punhalada na classe do voleibolista que tinha no “toque”, a forma de mostrar sua maestria. Até recentemente com seu 80 e muitos anos ainda batia uma bolinha no basquete no Clube Paineiras do Morumby (grande amigo e companheiro)!
- ANTÔNIO LUIZ JUNQUEIRA DE ALMEIDA, nosso calouro (55ª turma), chamado “JUNQUEIRINHA”, prestigiado nefrologista, cuja clínica, situada no bairro do Paraíso, em São Paulo, ocupa um imóvel da propriedade do Decio R.K. Oliveira, nosso querido colega da 52ª.
- LUIZ CARLOS UCHÔA JUNQUEIRA, o notável professor de Histologia, o protagonista desta postagem.
- LUIZ CARLOS UCHÔA JUNQUEIRA FILHO – psiquiatra, psicanalista didata brilhante, formador de diversos novos psicanalistas. Muito atuante, autor de diversos livros. Um grande orgulho para a 52a turma e um grande amigo!
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Os que conhecem a minha história sabem que o Junqueira da Histologia, para mim ‘JUNQUEIRÃO’, é meu segundo PAI. A ele eu devo toda a minha vida.
Segundo pai?!!!
Explica melhor!
O nosso Junqueira, o Pai, foi quem me estimulou à prática da caça submarina e a historia do ataque de tubarão que sofreu num de seus mergulhos era mais um motivo de admiração ao mestre querido e o Dr. Antônio Luiz Junqueira de Almeida, nosso calouro Junqueirinha, é proprietário da Fenix Nefrologia, onde é nosso inquilino há anos. Inquilino melhor não pode existir.
Algo inesquecível da Histologia de nosso tempo: “FOCO ALVARENGA”! Tornou-se uma “marca registrada” do Professor Junqueira, quando das projeções dos velhos diapositivos que o “bom crioulo” fazia para suas aulas magnas – e aquelas malditas lâminas sempre estavam fora de foco… rsrs
É verdade que histologia era matéria maçante…
E embriologia, então? Algo que beirava o ininteligível… aquele mestre japonês (lamento ter esquecido seu nome, Dr SAKAE?), explicava o desenvolvimento embrionário dos seres, enrolando na mão o avental que vestia, depois o antebraço, e enrolava, enrolava… e, no final, estava tudo amontoado na barriga, às vezes a “fralda” da camisa junto, e a mão já não se via… nunca consegui entender patavina daquilo que ele explicava daquela forma “extremamente didática” (rsrs).
Foi no início da minha Residência Médica que, caprichosamente, este “jogo virou”: o Professor Silvano Raia proferiu uma aula extraordinária na sala de autópsias, sobre a abordagem de todas as vísceras abdominais, tudo embasado em princípios embriológicos – alongamentos, rotações e acolamentos sofridos pelo tubo digestivo durante a vida embrionária, levando consigo sua sustentação e irrigação mesenterial! Caracas!! Era a mesma aula do Sakae, só que sob outra visão – e os olhos que a assistiam não eram de um calouro imbecil, mas de um aprendiz de cirurgião com sede de aprender. Adorei a aula, é claro, e evolui compreendendo que grande parte das manobras e táticas cirúrgicas abdominais, inclusive nas do trauma, é totalmente baseada na embriologia. Ao longo da vida e por dezenas de vezes, em momentos críticos no campo cirúrgico, me vinham à cabeça e me inspiravam, os princípios embriológicos, aí absolutamente inteligíveis, claros.
Por quase cinco décadas, na Gastroclínica/Hospital Edmundo Vasconcelos, todos os anos, quando uma nova turma de residentes iniciava suas atividades, eu lhes dava a mesma aula, humildemente, tentando imitar o mestre Silvano. Muitos destes moços, alguns já beirando os 70 (!), me ligam e me relatam suas experiências nos “PSs da Vida”… e o sucesso que tiveram em sair de encrencas utilizando aqueles ensinamentos.
Aquele mestre japonês que enrolava o avental, e a gente também, acho que se chamava Sakae Yoneda.
Bem lembrado, amigo Takanori: Sakae Yoneda!
Quem lembra da primeira prova de Histologia da nossa turma?
Eu lembro…
Minha prova escrita foi apresentada como a pior (tirei dois!). A melhor foi da Lea. Mas na prova prática, tirei 9… e a primeira lâmina era um folículo de Graff, e a pergunta era: “Você conhece esta estrutura?”
Sempre admirei o Prof. Junqueira, gostava das aulas de Histologia e ia bem nas provas práticas.
Muito bom Xará.
Eu sempre admirei a resiliência do Prof. Junqueira, como lhe havia dito.
Estas considerações da postagem complementam o orgulho de termos tido professores dessa categoria.
Muito obrigado meu querido Eduardo Berger!
Fiquei emocionado com estas informações sobre meu pai, pois acho que sua obra é um orgulho não só para nós seus alunos, mas para a ciência brasileira!
Muito bom Xará . Eu sempre admirei a resiliência do Prof. Junqueira , como lhe havia dito . Estas considerações da postagem complementam o orgulho de termos tido professores dessa categoria .