Na Psiquiatria, Residente de primeiro ano, aprendo técnica psicanalítica, com a qual não me sinto bem, por sua pretensão de não envolvimento da pessoa do profissional com a do paciente. Digo pretensão, por considerar essa “assepsia” impossível. Quando exponho isso nas sessões de supervisão, me é dito que devo “treinar” a postura terapêutica e que o envolvimento é neurótico.
Policlínica Santa Fé, Rua Xavier de Toledo, São Paulo, 1970.
Entra, com a cabeça baixa, sem responder ao meu boa tarde. Percebo estar ruborizada. Vira a cadeira e se senta de costas para mim. Nunca vi isso.
Obedecendo a técnica, não interfiro. Pergunto, depois de alguns segundos, em que posso ajudar. Ela continua em mutismo. Eu, em alguns momentos, pergunto algo. Ela, não fala nada. Ao final de uma hora, digo que ficamos por aqui, e peço que volte na próxima semana. Não responde, nem dá a mão.
Na terceira vez, não consigo continuar me contendo. Deixo de lado a técnica, por não funcionar. Estou compadecido, por sua dificuldade, desde a primeira vez. Me levanto, vou até ela, tomo sua mão, a faço levantar-se também. Ela me abraça. Chora compulsivamente. Volta a se sentar e começa a falar de sua sociofobia, gravíssima.
Começa a se tratar.
Não fosse esse ato humano, o abraço, ela talvez não suportasse também o silêncio das sessões seguidas, talvez nunca mais voltasse, penso.
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Comovente . Demonstra que acima do profissional, médico, está o humano
Emocionante.
Fiz terapia tanto de um jeito como do outro.
Como paciente me senti muito melhor com a interação com o terapeuta.
É um exemplo de quanto precisamos de afeto e carinho. Um abraço abriu o mundo. É universal!