segunda-feira, maio 20

“O ilustre Professor Ulhoa Cintra, Catedrático de Clínica Médica”. – Roberto Anania de Paula

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PROFESSOR ANTÔNIO BARROS DE ULHOA CINTRA – ex- Reitor da USP, ex-Secretário de Educação do Estado de São Paulo e ex- diretor da FAPESP , repreendido por um interno.

A propósito de conversas no WhatsApp sobre o sobrenome Uchoa, surgiu também o de Ulhoa.

Assim, nos recordamos dos Professores Catedráticos (assim eram chamados, antes da Reforma Universitária de 1968) Luiz Carlos Uchoa Junqueira (Histologia e Embriologia) e Antônio Barros de Ulhoa Cintra (1ª Clínica Médica) .

Com o primeiro – pai do nosso colega Luiz Carlos Uchoa Junqueira Filho – tive pouca convivência, pois cursei o 1º ano na Escola Paulista de Medicina. O segundo mal conhecemos na graduação, pois nesta época foi Reitor da USP e o responsável pela reestruturação da Universidade, criando os chamados Institutos de Ciências Básicas, que reuniu as cadeiras básicas no campus universitário,

Este fato descaracterizou nosso prédio, na Av. Dr. Arnaldo, levando as cadeiras básicas e todo o arsenal de professores, funcionários e alunos para a cidade universitária; retirou os anos iniciais do curso e modificou completamente o nosso querido porão. A 52ª teve o privilégio de anteceder esta transformação, certamente uma das razões de nossa união fraterna. Fomos “ratos dos mesmo porão” e convivemos com nossos sucessores e antecessores.

Este processo que esvaziou o nosso prédio – tão criticado na ocasião – foi o responsável pelo aparecimento de mais de mais de vinte L.I.M. (laboratórios de investigação médica) nos espaços vazios, que foram vetores do enorme desenvolvimento científico da FMUSP nos anos subsequentes, até os dias de hoje.

Recordando o ensino de Clínica Médica na nossa graduação, creio que o afastamento do Professor Ulhoa Cintra – pela dedicação à reitoria – fez com que o outro Professor, Luiz Venere Decourt, tenha sido tão importante na nossa formação e eleito um dos nossos homenageados. Este pequeno convívio com o Prof. Ulhoa Cintra, não interferiu na nossa formação, pois seus assistentes foram excepcionais e dedicados.

Veja a seguir manifestações de colegas nossos, 55 anos depois!

“O Prof. Ulhoa Cintra foi uma pessoa de grande cultura médica e geral. Suas visitas na enfermaria eram memoráveis. Devo a ele o estágio em Londres, onde ele inclusive foi me visitar e a posição de assistente na 1a Clinica Médica. Uma figura inesquecível”. (Lea Lederer Diamant)

“O Prof. Antônio Barros de Ulhoa Cintra foi uma das pessoas mais brilhantes que já conheci. Foi reitor da USP e era admirado pelos seus assistentes. No concurso para titular da MI, estavam na disputa o Amato que, com sua peculiar simplicidade, apresentou seu currículo poderoso e o Veronesi, com o ego “ligeiramente”aceso, bradava que um professor da FMUSP deveria falar bem o inglês, ao frequentar congressos e apresentar seus trabalhos científicos – como que subestimando o Amato. O Prof Ulhoa Cintra, em seu julgamento, destruiu o Veronesi, criticando-o por incluir no memorial publicações “científicas” em jornais. E encerrou com esta: ‘Prof Veronesi, um professor titular desta Faculdade, em reuniões internacionais, muito mais do que FALAR INGLÊS, DEVE SABER O QUE FALAR, EM INGLÊS’. O Amato venceu! Eu vi, eu assisti a esse concurso”.  (Eduardo Roque Verani)

Depois de todas estas informações, segue o texto, motivo desta comunicação:

“Uma historia do internato no HC”

Quando interno, estagiando na CM, estava num domingo avaliando um paciente na Sala de Choque. Neste exato momento, entra um senhor de terno e gravata e imediatamente o coloquei para fora, por estar sem avental e máscara. Obedeceu, saiu e retornou paramentado. Perguntou meu nome, o nome do paciente e dados médicos. Elogiou minha postura e disse que iria aguardar o responsável pela sala. Quanto saí, a enfermeira espantada me disse que eu tinha colocado para fora da sala o Professor Antônio Barros de Ulhoa Cintra, o Professor Catedrático da 1ª Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo!

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ADENDO DO EDITOR

Prof. Dr. Virgílio Gonçalves Pereira

O Prof. Dr. Virgílio Gonçalves Pereira graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, em 1954; recém formado, transferiu-se para a capital paulista, tendo implantado e chefiado várias  UTIs, nos grandes hospitais de nossa cidade.

No HC, criou a Unidade de Choque na qual, sob sua direção aprenderam e se aperfeiçoaram jovens médicos, cujos conhecimentos foram levados a muitas regiões do País.

A simples leitura de seu Memorial, já em 1978, quando se candidatara para o cargo de Professor Adjunto de Clínica Médica, revela sua criatividade e seu labor contínuo – ele se constitui numa honra para a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em que sempre trabalhou na 1ª Clínica Médica do Hospital das Clínicas (Serviço do Prof. Ulhôa Cintra).

4 comments

  1. EDUARDO BERGER 9 fevereiro, 2022 at 11:29 Responder

    Beto, fiquei abismado com seu relato!
    Será que eu sonhei??
    Aconteceu comigo rigorosamente o mesmo: no internato, 1969, fim de semana, sala de choque, eu de plantão, um senhor desconhecido aparece já entrando… calça marrom, paletó creme, com uma bela gravata – o resto igual. Disse-lhe que o acesso era restrito à equipe de saúde, que não se admitiam visitas ou entrada de elementos estranhos… pedi que saísse imediatamente… etc etc
    Ele então se identificou: “Sou o Professor Ulhoa Cintra” – e elogiou minha atitude.

  2. Eduardo Verani 9 fevereiro, 2022 at 12:25 Responder

    Duas atitudes semelhantes de dois internos responsáveis e de um homem digno, que não usou seu título ou seu prestígio para se impor.
    Os bons são assim mesmo, fazem-se respeitar, e respeitam.

  3. Décio Kerr Oliveira 9 fevereiro, 2022 at 13:14 Responder

    O Professor Ulhoa Cintra não sabia com quem estava lidando. A 52ª já era poderosa naquela época. Agora falando sério, fico emocionado com estes relatos dos nossos queridos amigos.

  4. Carlos Roberto Martins 10 fevereiro, 2022 at 08:46 Responder

    Acho que a Sala do Choque era emblemática, numa época anterior ao desenvolvimento das UTIs.
    Lá, vários colegas já nos relataram passagens de encontro com mestres inesquecíveis, como o Prof. Ulhoa Cintra.
    Também eu, de plantão lá, tive a honra, o privilégio, de conhecer de perto o Prof. Alipio Corrêa Neto, em visita de cortesia a um paciente, seu amigo, lá internado. Foi o primeiro, e acho que único, contato mais próximo que tive com o Professor. Fiquei muito impressionado com sua educação, simpatia, sua postura de mestre. Tão impressionado que fui ler sobre sua história de vida, etapas de sua formação como cirurgião, sua participação como médico cirurgião na II Guerra. Que figura enorme da história de nossa amada Escola!

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