Num determinado dia, era a Dora (nome fictício), uma crente de alguma Igreja Pentecostal, a paciente da emergência da “minha” Gastroclínica…
Chegou ao PS, trajando o característico tailleur cinza, comprido abaixo dos joelhos, o cabelo em coque no alto da cabeça, uma bíblia na mão; era uma afro descendente, mestiça, bem alta, com sobrepeso nítido. Em vista de uma diverticulite aguda perfurada, tive que premia-la com um grande racho no abdome, além de uma colostomia. Isto ocorreu, obviamente, numa época em que a vídeo cirurgia nem passava pela nossa imaginação.
Durante o longo tratamento, incluindo a re-operação (reconstituição do trânsito intestinal), por diversas vezes ela se dirigiu a mim dizendo: “o senhor, quando falou”… E quando eu, surpreso, perguntava eu falei?! Ela respondia: o Senhor falou, referindo-se ao Ser Supremo. Mesmo porque ela andava, permanentemente, com a Bíblia às mãos, citando passagens sacras e me convidando para, junto com ela, agradecer a Ele pelo bom resultado do tratamento, etc. Deu-me uma Bíblia de presente e quando eu lhe dizia que nós, os médicos, também éramos responsáveis pela sua recuperação, ficava brava, dizia que só Jesus salva e coisas do gênero.
Enfim, “o senhor me salvou”, não era comigo, mas sim com o Senhor de todos nós. E assim foi…
Num determinado dia, já curada, sentada à minha frente, já de alta há muitos meses, e, ainda assim, frequentando assiduamente meu consultório (?), olhou me nos olhos languidamente e disse: -“Desculpe doutor, nem sei como lhe falar… eu amo o senhor”!! Fiquei gelado: a mulher era quase do meu tamanho e, cá entre nós, um tribufú, posso garantir aos leitores sem qualquer atrativo feminino! Diante do inusitado e do pânico que eu tinha que controlar, respirei fundo e proclamei: -“Dora, eu também amo o Senhor”!! Ela retrucou: -“O senhor não está me entendendo”!! Eu respondi: -“O Senhor sempre nos entende, minha filha”!! E foi um vai e vem de afirmações repetidas e enfáticas: ela, “mas eu estou dizendo que amo o senhor”, e eu, “também digo que amo o Senhor”… Até que ela sossegou!! Mudamos de assunto… Escapei de boa!
Ela voltou mais uma ou duas vezes à consulta, mas eu, precavido, sempre que via seu nome na lista de pacientes, convidava a Teca, minha querida auxiliar de enfermagem, para permanecer na sala…
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Nada como a presença de espírito não é meu amigo? Ufa, que sufoco.
Muito boa crônica Berger! Agradeço ao senhor por ter um colega que escreve tão bem!
Agradeço ao Senhor por ter essa turma fantástica! Love u all!
Que bom que vc gostou! E rir é o melhor remédio!
Pois é, hoje a gente dá risada mas, na ocasião, não achei graça nenhuma, foi medo o sentimento,
O Senhor é meu pastor , e nada me faltará !! E eis que surge na sua vida a doce Patricia !!
Berger, agradeço ao senhor e ao Senhor por poder reler estes relatos seus e da nossa gloriosa 52ª. Momentos de muita emoção e boas gargalhadas.
Que bom que vc gostou! E rir é o melhor remédio!
Todos, em minha família, somos pacientes do Dr.Berger, médico gastrocirurgião de extrema competência.
Operou minha filha e eu de pedras na vesícula, tratou meu marido de gastrite e cuida de meu filho Nicholas do H.Pylori, que não o abandona (porque não toma os remédios com seriedade)…
Somos todos agradecidos por seus cuidados e temos Grande Admiração por sua pessoa: “homem sério, de poucas palavras e sempre muito atento às nossas queixas”
Parabéns ao Dr.Berger
Essa é rotina de todos nós, esculápios da era moderna!
Sensacional os contos e a página de memória da turma… Preservar a memória é mais do que manter um arquivo de fotos ou causos. É também preservar um pouco do que que foi o passado e um tanto do que ainda se é no presente. Parabéns.
Caríssimo amigo Sebá
Fico lisonjeado com o prestígio de sua visita ao nosso site!
Gratidão pelas suas palavras generosas – sei que vc não é de elogios fúteis, de “rasgar seda”… por isso o significado que teve seu comentário, para mim!