domingo, dezembro 22

UM CLIENTE MISTERIOSO, Roberto Anania de Paula

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No inicio da década passada, consultei algumas vezes um paciente interessante. Queria sempre o primeiro horário pois era muito ocupado, e pedia pontualidade. Antes de chegar ligava para saber se o “doutor” já estava presente e o aguardando. Pagava em dinheiro trocado e entrava logo no consultório.

Morador de um dos primeiros condomínios fechados de alto padrão de Jundiaí, chamava a atenção por estar sempre perfumado, tinha pouco cabelo, portava óculos escuros, e no pulso um relógio que nunca esqueci. Pulseira de ouro, mostrador de fundo azul escuro sem ponteiros e com duas estrelas de brilhante de tamanho diferentes que marcavam as horas. Aparentava 50 anos, sotaque italiano e, segundo a identificação, naturalidade italiana e brasileiro naturalizado. Esteve no consultório por três vezes em 2 anos e sem particularidades médicas relevantes. Consulta gastroenterológica de rotina. Ao solicitar uma colonoscopia, me perguntou se tinha algum colega que a fazia com privacidade em consultório, e assim foi feito.

Encantava a secretária com sua presença e ela que sempre me avisava: “Dr. o paciente cheiroso virá a semana que vem” e nos preparávamos para o atendimento.

Alguns meses depois do último contato fui surpreendido pela imprensa: “Siciliano condenado na Itália a 30 anos por sequestro, assassinato e contrabando de armas, morador de Jundiaí, foi preso pelo Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (DEIC), por solicitação do ministro Maurício Corrêa do STF, que atendeu pedido do governo italiano para sua captura e extradição”.

A extradição foi rápida e nunca mais tive qualquer informação a respeito.

A secretária, hoje mora na Itália. Por vezes nos falamos e pergunto se não encontrou o misterioso “cheiroso”. Damos boas risadas.

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