O ano, 1969.
Nos plantões do Pronto Socorro, às vezes saímos para comer no Burdog, a duzentos metros, atravessando a Faculdade e a Av. Dr. Arnaldo.
Hoje é um desses dias. Meu favorito, o cheeseburger de calabresa e champignon está uma delícia, assim como o milkshake de morango.
Volto, satisfeito. A entrada do PS é sempre repleta de gente, acompanhantes e pacientes. Em meio a todos, um homem me aborda. Visivelmente indigente, em andrajos, está sorrindo, o que chama minha atenção. Tenho a idéia.
O PS, naquele horário, distribui aos pacientes admitidos uma sopa, servida em copos grandes. Pego um copo e o levo à entrada, dando-o a ele. Já tem um companheiro, sentado a seu lado. Este corta um pãozinho com as mãos. Ambos mergulham seguidamente os pedaços no copo de sopa e comem.
Nunca mais esqueço esta cena.
Não tendo o que mais dividir, dividem a pobreza.
Ricos…
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Abaixo um lindo texto que recebemos – seu autor nos autorizou a publicação
O QUE É BOM… REPETE!
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GRATIDÃO
Domingo friozinho. Na cama, coberto, vejo “Testemunha de Acusação”, cult dos melhores, tomando uma sopa quentíssima. A memória traz uma cena inesquecível.
1969. Sexto ano, Interno, plantão noturno no Pronto Socorro, lotado, como sempre.
Toda noite, o hospital distribui uma sopa quente aos pacientes. Como são inúmeros, é servida em copos grandes, descartáveis. Estou próximo à porta de entrada. Um mendigo tenta conseguir um copo, em vão. O porteiro lhe diz que é só para pacientes.
Pego dois copos, saio, caminho até ele, que se afastou, e lhe dou os copos.
Me olha bem nos olhos, como se não entendesse por um instante e, a seguir, me dá um sorriso comovente. Coloca os copos ao chão, senta-se e, para meu espanto e comoção, me oferece um deles, sorrindo.
Quer dividir a sopa comigo.
Nunca esqueci seu rosto. (Domingos Lalaina Jr)
Momentos inesquecíveis!