sábado, julho 27

Terras boas, terras ruins por Eduardo Berger

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Ano 1963. Eu, pouco mais do que um adolescente, aluno do cursinho Brigadeiro, com o sonho de ser médico, um dia. Não poderia, ignorante total que era, ter aconselhado meu pai…
Cerca de 20 anos antes, ele havia migrado de Rolândia, Paraná (PR), para casar-se com o amor de sua vida, minha mãe paulistana. Tornou-se comerciante em São Paulo (no Bom Retiro, é claro!), enquanto seus irmãos, cafeicultores no norte paranaense, enriqueceram significativamente como produtores do “ouro verde”. Papai, com sua “lojinha” no bairro judeu, era o típico batalhador da classe média-média, lutando para manter a família; admirava os irmãos pela fortuna que ajuntaram – mas não deixava de sonhar em ser, também, proprietário de uma lavoura de café.
Foi quando ele me contou: seus irmãos o convidaram para uma sociedade, uma nova fazenda de café! E havia duas alternativas de negócio – uma fazenda tinha cerca de 100 alqueires de terra, numa região “pavorosa”, com um lamaçal interminável a ser percorrido para lá chegar… outra praticamente com o mesmo valor de compra, com a metade da área, porém bem mais próxima e com acesso bem melhor. Pobre de mim, analfabeto em bons (e maus!) negócios, não opinei é claro. Ele optou pela segunda – e comprou-a sozinho.

Fui com ele, ao volante do “fusca” 1.200 que ele tinha, para conhecer a tal propriedade adquirida no norte do Paraná. Pegamos a “highway”,  Rodovia Raposo Tavares… Sua pista única, com muitos trechos sem acostamento, fizeram da viagem uma aventura com muitas emoções, de São Paulo até Ourinhos, a última cidade do estado! Castelo Branco?? A estrada?? Nem projeto… nem o próprio marechal era conhecido!

A ENORME “PEROBINHA” QUE DAVA NOME AO PEQUENO SÍTIO

Atravessada a ponte sobre o “Panema”, já em terra das araucárias, passando por Cambará, Cornélio Procópio, Cambé, Londrina, Rolândia, se não me engano nesta ordem, chegamos à “nossa fazenda”, no município de Marialva.

Na porteira, que na verdade não havia, apenas um mata-burro e uma tosca placa: “Sítio da Perobinha”  –  e realmente uma enorme árvore lá estava (“perobona”?). Era um velho cafezal, pouco produtivo, que obviamente, não enriqueceu seu dono… papai vendeu-o uns poucos anos depois, acredito que pelo mesmo valor da compra.

Só pra terminar: sabe aquela propriedade que foi preterida, por ser “longe, de péssimo acesso, etc”?  A área que ela ocupava, hoje seria região urbana de Umuarama, talvez contendo imóveis importantes: agência do Bradesco, Casas Pernambucanas…

E SE EU TIVESSE FEITO DIFERENTE??

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