Veio de longe. Tinha uns 45 anos e veio ao consultório em função de claudicação limitante de membro inferior. Estava social e profissionalmente limitado. Além do mais já tinha vivido uma longa história hospitalar. Há uns 4 anos tinha sido submetido a um transplante renal e antes disso tinha sofrido muito em função das inúmeras diálises. Agora estava bem. O rimfuncionava direitinho e estava conseguindo cumprir com suas obrigações de pai de família.Nem tanto, na verdade. Ficou um pouco sem jeito, mas sua mulher o animou para que contasse que estava impotente faz tempo. Ela até que o olhava com carinho. Mas havia no olhar um quê de tristeza e ansiedade. Ela era bonitinha e no olhar dele se fixou uma tristeza até maior.
Expliquei que muitas vezes as drogas que se toma para controle de rejeição e hipertensão podem levar a isso. Como ele as tomava, resignaram-se
Na semana seguinte trouxe a arteriografia. Mostrava a causa da claudicação: uma obstrução da artéria ilíaca comum esquerda. O rim estava bem contrastado e a anastomose com a artéria ilíaca interna direita estava com bom aspecto radiológico.
Subitamente me dei conta que a impotência até que poderia ter como causa o problema vascular: uma ilíaca interna estava comprometida pelo rim e a outra pela obstrução da ilíaca comum. Mandei medir a pressão peniana e estava realmente abaixo do valor normal. Mas achei imprudente animar o moço. Afinal ele tinha me procurado para resolver o problema da perna.
Combinei os honorários e marcamos a cirurgia.
A tática cirúrgica foi interessante, pois havia necessidade de clampear a aorta e manter a perfusão do rim transplantado, já que a intenção era fazer uma restauração anatômica. Valemo-nos de uma bomba extra-corpórea para isso e limpamos a artéria ilíaca por endarterectomia. Com isso a ilíaca interna daquele lado voltou a ser perfundida normalmente.
O paciente teve alta alguns dias depois e jurou de pé junto que logo mandaria o dinheiro combinado dos honorários. Eu não lhe disse nada sobre a revascularização peniana apesar de ter havido normalização da pressão. Ele descobriria se funcionalmente tivesse melhorado.
Nunca mandou o dinheiro.
Mas dois meses depois veio um telegrama: “Dr. Bonno, não sei o que fez, mas aconteceu um milagre! Muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito obrigado” João e Josefina
Tive certeza que o pênis tinha feito o serviço que dele se esperava.
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