Navegando “sem destino” pela internet, me surpreendi ao ver certo anuncio no indicador médico: o nome do colega eu conhecia, ou melhor, eu conheci num momento marcante de minha formação profissional, na residência médica, em meu estágio de PSC…
Não é possível, pensei, 48 anos depois! Estaria vivo? Seria um homônimo? Ele era bem mais velho que eu àquela época.
O tenho na lembrança com imensa gratidão, pelo tanto que com ele aprendi na arte de operar e, principalmente, no manuseio, no trato pós operatório dos graves traumas abdominais. Não se enganem: ele nem de longe teria condições de ser nosso mestre (mais adiante entenderão…)
Fui ao site do CREMESP, ativo (!), seu número de inscrição em torno do 2.500 (bem velhinho, mesmo!). Não vou citar seu nome, mas o relato que faço a seguir, irá identificá-lo, ao menos para meus companheiros da cirurgia. Aí vai a história do colega (“Dr. VI”):
Era uma vez, quando rolavam os anos 60, o Dr VI; era um homem muito bonito, atraente, conquistador. Contam que havia despedaçado alguns pares de corações femininos e que um deles não se conformou e jurou vingança.
Teria nosso herói continuado um solteirão convicto, não tivesse encontrado aquela “jovem loira e linda” pela qual se apaixonou e se casou.
Passados alguns meses, o Dr VI recebeu, no consultório, uma senhora desconhecida que o contratou para uma visita domiciliar: dizia ela, que sua mãe residia nas redondezas e que não tinha condições de se locomover, necessitando de cuidados médicos em sua casa. O Dr VI prontamente aquiesceu à solicitação e, mais tarde, assim que terminou suas consultas, dirigiu-se ao endereço fornecido.
Lá chegando, no final da tarde, escurecendo, foi recebido pela mesma senhora que o contratara. Esta o fez entrar e, já no interior da casa, ele notou a falta de iluminação, quando outra mulher, certamente a “vingadora”, surgindo do nada, meteu-lhe uma grande faca de cozinha bem no meio da sua pobre “barriga desprevenida”! Fugiram, as bandidas, deixando-o só. Arrastar-se para fora, ser socorrido por algum passante e ser levado ao PS do HC, foi a óbvia sequencia dos fatos.
Pois bem: hemoperitônio severo, grave lesão na raiz do mesentério, lesão do cólon com importante contaminação da cavidade, lesão pancreática, etc… Aí, múltiplas intervenções (Oscar Simonsen, Flavio Queiroz, Dario Birolini, Eugênio Ferreira), morbidez extrema, complicações mil. Morre X não morre!! E 4030 nele, é claro! Meses internado. Saiu vivo, vocês já sabem: 48 anos depois, ainda está ativo no CREMESP, consultório funcionando!
Entenderam o porquê da minha gratidão? Aprendemos muito com esse caso! Verani, Anania, Lobo, Mammana, Egashira, Watanabe, Cury, Otávio e outros podem confirmar. Tristemente, Ranoya não, nem Mamed, nem Lamardo, nem Masamiki…
Pra terminar, mais uma do Prof Dr Waldomiro de Paula, sempre ele:
Estávamos no chamado “T” do PS, um pequeno grupo à sua volta, assistentes e residentes… Nossos olhos voltados para o corredor da ala norte. Lá, desolada, olhos marejados, aquela linda loirinha, gestante já bem aparente, observando através o “aquário” da 4030, seu amado, o Dr VI, com diversos tubos e aparelhos conectados, o que lhe proporcionava um Índice de Mamed com prognóstico sombrio…
O Fellow, piteira no canto da boca, óculos rayban, sempre cercado de residentes e assistentes, proclama em alto e bom tom: “FELLOW, É A VINGANÇA DA VAGINA”!!
Foi uma gargalhada que ecoou naquele corredor de tantas histórias….
Grande Waldomiro!
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Brilhante narrativa meu parceiro. Parece que foi ontem que ví como uma “matéria prima” de lei é resistente… (Roberto Anania de Paula – 2017)
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Vc lembra bem, né parceiro? Acredita que o cara tá vivo?! “Dando” consulta?! Prova viva de que o PSC salvava mesmo!! Ou não?
(Eduardo Berger – 2017)
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Acho que ele tinha uns 35 anos na ocasião. Mais 48, uns 83. Artigo Raia, tem mais de 100 anos e está vivo. Não parece improvável não. Ainda está lá pelas bandas onde vc morou? (Roberto Anania de Paula – 2017)
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Positivo! O Google é cruel… CRM 2 mil e pouco (Eduardo Berger – 2017)
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Não foi bem assim a designação dada pelo Fellow ao ato de vingança! Otávio Corrêa – 2017)
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Ele utilizou um chulo. Mas o sentido é o mesmo. (Eduardo Berger – 2017)