Em 1967, ainda no primeiro semestre, começaram as tratativas para a constituição da Comissão de Formatura da 52ª turma; o como e o porquê ter sido eu o escolhido para presidente, não me lembro bem – só sei que, por serem mais próximos, chamei o Ranoya para secretariar, o Ulisses para ser o vice, o Lalaina e mais alguns… Então, ouvimos coisas como: “essa turma é da pesada!”, “será que se pode confiar?”, “o que farão com nossa grana?”, e por aí afora.
Pensei: “precisamos de um tesoureiro acima de qualquer suspeita” e convidei o Noragi, bastante acreditado pelo grupo. Pouco tempo se passou, ele não quis continuar, foi substituído pelo saudoso Henrique Mantelmacher, com créditos ainda maiores pela sua notável atuação do Departamento de Publicações do CAOC. Aliás, esse grande colega merece todas as homenagens, em vista de sua dedicação à nossa turma.
As comemorações previstas para nossa formatura tinham na ida à Europa, nas férias do meio do ano de ’68, nossa meta maior. A primeira atividade para a arrecadação dos fundos necessários ocorreu com a tradicional Festa Junina da Atlética (1967). Sobrou-me desse evento pouquíssimas lembranças: o trabalho extenuante e o minguado sucesso financeiro. Salvo engano, o Noragi ainda era o tesoureiro, mas duvido que ele se lembre de algum número…
Daí pra frente, na prática, “a comissão passou a ser eu e o Henrique” – muito mais ele do que eu! Criamos uma pessoa jurídica, o “Fundo Científico-Cultural dos Alunos da FMUSP”, e nos associamos a um senhor (“elemento” de reputação, no mínimo, duvidosa) do qual esqueci o nome, mas que nos foi muito útil e com o qual levantamos uma fortuna para a época. Ele trouxe a “receita pronta”: rifas de valor elevado, vendidas à prestação (os compradores assinavam “promissórias”!) e com uma “pequena” entrada que ficava de comissão para os chamados “curingas”, gente dele, que também eram bem pouco recomendáveis…
Paralelamente, os colegas interessados também vendiam as mesmas rifas e fizemos um belo caixa. Foram duas séries dessas rifas (leia mais no apêndice). Sobre os detalhes do processo, a abertura de firma (CNPJ), as diversas contas bancárias criadas, as “trocentas mil” promissórias relacionadas em borderô, os controles financeiros, não vou me estender nesta matéria.
Foram muitas as histórias! Vou destacar uma: o saudoso José Roberto Lamardo era um moço pobre, de família lutadora e de enorme valor. Ele queria muito ir à Europa, mas tinha, em seu circulo de relacionamento, muito pouca chance de vender as rifas, tão caras . Falou comigo sobre sua dificuldade, praticamente desistindo da nossa “viagem dos sonhos”; inspirou-me no lançamento da terceira série de rifa, bem baratinha… e ele foi o recordista de vendas! Conseguiu a grana necessária para participar da jornada à Europa! Muito me emocionou uma declaração sua, de gratidão a mim (?!), muito tempo depois.
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Apêndice
l. a moeda da época era o cruzeiro novo – o salário mínimo oscilava em torno de NCr$ 130,00 (aproximadamente, 33 USD)
2. a primeira rifa custava NCr$ 50,00 e tinha 5.000 números. Se todos os números fossem vendidos, teríamos uma arrecadação bruta de 250 mil cruzeiros novos. O sorteio foi pela Loteria Federal e oferecia cinco prêmios (em torno de 70 mil cruzeiros novos) – três carros 0 Km e dois em dinheiro: 1º. Ford Galaxy; 2º. Fusca; 3º. Fusca; 4º. NCr$ 3.000,00; 5º. NCr$ 2.000,00
Vendemos cerca de 2.200 números e entregamos apenas um VW e um dos prêmios em dinheiro – os demais números sorteados foram para rifas não vendidas. Estimo que sobraram uns 120 mil “dinheiros” (NCr$).
3. a segunda rifa custava NCr$ 150.00 (uma fortuna!) e tinha 1.500 números (um absurdo!) – conseguimos vender, a muito custo, qualquer coisa em torno de 140. O prémio era um VW Karmann Ghia 0 km, que felizmente, “saiu para número não vendido”! Portanto arrecadamos algo em torno de 25 mil cruzeiros novos.
4. da terceira rifa – a “do Lamardo” – pouco me lembro: 40 a 50 mil números a NCr$ 5,00 (?) – talvez tenhamos vendido uns 2 0u 3.000 números = NCr$ 15.000,00 – “evidente ou felizmente”, pela enorme desproporção entre as rifas vendidas e a quantidade total de números, o prêmio (não me lembro o que era) “saiu” para um a rifa não vendida… (ufa!)
Todos os sorteios foram através de extrações da Loteria Federal…
5.Da festa junina, como já disse, pouco me lembro… não sei quanto sobrou.
6. Nos “finalmentes”, podemos dizer que arrecadamos qualquer coisa em torno de cinquenta mil dólares!
Cada viajante custava pra nós cerca de 1.100 dólares, sendo que dez pagaram integralmente, já que não faziam parte da turma (o primo do Otávio, as tias do Leandro, os 5 do corpo docente – Luiz Patricio e Yoshihiro com esposas + Dorina, além de mais duas moças que a Martinelli “ofereceu” pro Macedo tomar conta…).
Então com as rifas conseguimos pagar cerca de 75 % de todos os custos… FANTÁSTICO!
ISTO NÃO É UMA PRESTAÇÃO DE CONTAS TARDIA (rs) … é apenas uma curiosidade, até porque os números acima são estimados.
Que falta sinto do meu querido Mantelmacher – RIP
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Das rifas do Lamardo, eu lembro que abordamos o cantor Roberto Carlos num cruzamento da Av. Brasil, quando dirigia seu carrão. Só não lembro se ele comprou ou não nossa rifa. (Decio Kerr Oliveira – 2017)
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Da primeira rifa, um dos prêmios em dinheiro foi ganho pelo meu tio que, meses antes, havia doado um barril de vinho para nossa festa junina, já que ele produzia vinhos em São Roque. O número sorteado foi o 98. Leandro foi a São Roque com seu Simca Chambord e trouxemos o barril. Grandes lembranças. (Eduardo Verani – 2017)
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A foto que ilustra a matéria tem, para mim, grande significado – a parceria com o Henrique Mantelmacher representou muito em minha vida. Éramos meninos, assinamos contratos de vulto, assumimos enorme responsabilidade – e tudo de forma extremamente respeitosa e desinteressada. (Eduardo Berger – 2017)