Manhã de inverno há uns 30 anos, um frio do capeta, toca o telefone em minha cabeceira, olho no relógio, 1h30 da madrugada, era uma irmã de caridade das Pequenas Missionarias de Maria Imaculada. Eu presto serviço comunitário a esta ordem.
“Doutor, dá para o senhor vir depressa, pois uma das pessoas que damos assistência social está muito mal”. O endereço, cavernosíssimo, uma favela miserável e perigosa na periferia da cidade. Famosa por seus crimes, a ‘Linha Velha’.
Barraco de chão batido, uma deficiente mental de uns 30 anos indefinidos de pé na porta vestida com uma camisola de pano barato e a mãe dela, já morta de frio, num estrado colocado num canto. A freira que me acompanhava me entregou os documentos da falecida e, para meu espanto, ela havia nascido em Ilha Bela na praia dos Castelhanos. Para quem conhece, é um dos mais belos cantos do planeta.
Fiquei pensando no contraste da paisagem do nascimento e na realidade do momento. Que desperdício abandonar tanta beleza para terminar num lugar tão miserável.
Fiquei muitos dias sem poder me livrar das imagens de um e do outro lugar.
Um abraço a todos da 52a .
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