Parecia a Marilyn Monroe. Aliás, ela achava que se parecia com ela. Vestia-se, penteava-se e maquiava-se como ela. E com muito batom. Faltava ser bonita. Mas, é claro, era muito vistosa. Chamava a atenção.
Tinha tratado do pai dela por um longo período de tempo durante o qual houve bastante contato. O pai morreu e o contato terminou.
Muitos meses depois ela entrou na sala de consulta. Não me dera conta do nome e mesmo que tivesse dado, seria perfeitamente natural que pudesse precisar de uma orientação médica. Tinha um dos pés mais frio que o outro. Não se lembrava se era o direito ou o esquerdo. Algum dia ela se lembraria, afinal não era uma centopéia. Ela riu muito da brincadeira. Tanto que me preocupei com o que poderia vir a acontecer.
Quando me levantei para lhe abrir a porta ela se colocou em minha frente, me abraçou e me grudou os lábios na minha boca. Foi rápido. Me olhou e ameaçou: fique quieto pois o batom sai do rosto mas não sai do colarinho. E repetiu a dose com intensidade redobrada e tempo que me pareceu interminável.
Fiquei atônito e aflito. Imagine que alguém entra agora e se depara com a cena. Imagine que ela saia gritando porque eu a estaria agarrando. Imaginei um montão de coisas. Nada boas.
Quando o beijo terminou, ela simplesmente se virou, abriu a porta e foi embora.
Nem ao menos agradeceu!
Levei um tempo para me recuperar. Lavei o rosto e reiniciei o dia.
Achei que nunca mais a veria. Engano. Pelo menos uma vez por ano marca uma consulta. Paga. E me vem com a mesma queixa do pé frio. Conversa um pouco e vai-se embora.
Nunca mais se falou sobre o beijo
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