Era um português até que simpático. Viúvo, vivia só num pequeno apartamento. O filho, dentista, lhe era bastante devotado. Tinha uma isquemia grave numa das pernas, com risco de amputação. Acabamos submetendo-o a um by-pass fêmoro-poplíteo que restabeleceu situação hemodinâmica suficiente para promover a cicatrização das lesões tróficas que tinha no pé e na perna. Como morava sozinho, acabou ficando internado bastante tempo pois não havia quem pudesse cuidar dele, pelo menos preparar-lhe o café da manhã e o almoço.
Depois de algumas semanas, no entanto, ela estava impaciente e ninguém mais agüentava seus queixumes relacionados com as dores da operação. Normais, mas eram dores. Resolveu-se diagnosticar “hospitalite” e ele foi mandado para casa.
Não foi uma boa decisão. Muitos dias depois do retorno combinado voltou com a perna inchada, as feridas tinham aumentado e a dor agora era bastante real. Interna novamente. Mil promessas de se cuidar direito. Vai para casa. Volta pior. Novas recomendações. Melhora um pouco. Dores outra vez. Convênio pede água. Não mais autoriza sua internação. Chegou uma hora em que eu não agüentava mais.
Fui sincero ao lhe confessar minha indisposição para continuar tratando de uma situação que parecia não se resolver e sugeri que procurasse um outro médico. Eu, na verdade, não conseguia entender sua fidelidade. Se fosse eu já teria mudado de médico faz tempo. Insisti muito e ele só concordou depois de sugerir que outro colega de minha própria clínica continuasse cuidando dele.
Achei que tinha sido um bom acordo.
Várias vezes o encontrei na sala de espera, sempre mais satisfeito do que quando eu cuidava dele. Radiante até. Passou-se um tempo longo até que me encontrei novamente com ele. Ele estava ótimo. Não tive dúvida. Ele respondeu afirmativamente quando perguntei se as feridas tinham se fechado. E passei a fazer a apologia de minha decisão tão acertada. Às vezes o médico não consegue mesmo resolver o problema e é só mudar de ares que as coisas se resolvem. Ele sorriu para mim, acenou um sim com a cabeça e, perguntou se podia falar comigo na minha sala. Claro que podia.
Muito gentilmente ele me contou que também o outro colega não tinha resolvido nada e ele resolveu desrespeitar todas as nossas recomendações. Não queira dizer isso na sala de espera pois estava cheia de gente.
Ele acabou indo benzer a perna e as feridas sararam em dez dias….
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