
Entre a oração no jardim, a nudez e o caos…
Algumas pessoas podem estranhar a atitude inusitada que estou tendo, em finalizar três CDs autorais distintos, os quais aparentemente não tem conexão entre si: um álbum de new age inspirado em temas japoneses, o “Zen Garden”, um álbum quase acústico, o “Naked Zen” e um experimental pesado, na onda que as pessoas costumam associar ao meu nome, intitulado “Crônicas do Caos”.
Coleções de fragmentos de muitos anos, finalizadas e esculpidas como trilha sonora do início e final de um ciclo.
Ciclo que teve início precisamente no dia 24 de novembro de 2014, data que meu pai sofreu um AVC gravíssimo, de consequências arrebatadoras e sem volta para todos que estavam próximos. A bomba estava deflagrada e o caos se fez presente.
Mantive este fato (com o peito, bestamente, estufado) longe de todas as redes sociais que estou presente; principalmente por não me sentir a vontade e querer preservar minha vida pessoal ao máximo; da pessoa pública do professor, guitarrista e: aham… artista (a le leque…)
Quem me conhece a fundo, sabe que possuo uma natureza extremamente reservada, contraditória ao meu jeito engraçado e filosófico de dar aula e quebrar guitarras (sonhando ser o narigudo de Sheperds Bush) no palco; muitos falam que a coisa tem de ser tirada da minha boca a fórceps (por sinal nasci na base deste… rs).
Se vc acompanhou e soube deste drama que eu e minha família atravessamos, sinta-se honrado: vc está num ciclo super restrito, que é amado tanto quando todos os meus brothers e sisters que estão espalhados no FB pela rede e pela vida.
O ciclo em questão terminou há 20 dias, onde meu amado pai, grande e mais que presente companheiro de encarnação encontrou descansou após quase dois anos de desesperador coma vigil, onde pouco se pode penetrar e entender da sua bela, complexa e forte personalidade; um médico que curava o físico e a alma de seus pacientes. Um pai único, sendo que a grande maioria de meus colegas músicos o conheceu carregando meu amplificador e tendo ímpetos paternos, como fingir ser militar na porta de uma casa noturna, para que a banda conseguisse entrar mais rápido para o round: checa… no La Ibiza, idos anos 90; fez cirurgias extras para me dar uma guitarra importada, comprou todos discos que precisei, do Venom ao Roy Buchanan e dava apoio total e irrestrito a minha carreira …..
De quase dois anos de silêncio e olhar perdido, ficou o presente de seu miraculoso, iluminado e incógnito sorriso de despedida no dia dos pais.
Dois anos onde tudo foi chacoalhado, desmantelado ao som da sinfonia do caos e desespero que se alternava com os pequenos grandes milagres que os santos e anjos (invisíveis e mascarados como gente) apresentavam.
A vida é bela… mesmo na aparente incongruência e dor.
Uma lição básica que fica, mesmo nas horas mais escuras, sempre dar o benefício da dúvida para o amanhã; ele sempre nos surpreende. Para melhor.
Talvez seja a maior lição de todas.
Esperar e lutar para preencher os vazios e deixar as cicatrizes fecharem.
Apenas o Grande Maestro lá de cima, reorganizando o tabuleiro de xadrez cósmico, sempre para melhor
Mais que tudo, içar a vela e ficar a postos no leme, pois os ventos são sempre imprevisíveis. Cabe a nós acharmos beleza e aprendizado no Caos… Estes sempre existem.
E Deus é uma constância… por mais que muitas vezes duvidemos
Paz e luz a todos.
Bijus!!!!
Marcio Okayama (25/11/2016)

Marcio Okayama e sua guitarra do Sol Nascente
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ADENDO DO EDITOR (IMAGENS DO AMIGO INESQUECÍVEL)

BAILE DO CALOURO 1964



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Comovente e significativo relato do Marcio, filho único do inesquecível e querido Masamiki.
Percebe-se a sutileza de seus sentimentos – um contraponto de emoções latinas e serenidade oriental, que se mesclam em sua alma de artista – nos traz a clareza do que é o amor do filho pelo seu pai e quanto dói a sua perda.
Descanse em paz meu irmãozinho japonês e vai aí uma amostra da arte do seu garoto:
https://102phim.com/video/m4WQBagtKsw/marcio-okayama-angel-morning-star.html
Obrigado por publicar….muito emocionado…. Deus abençoe a todos…toquemos a vida com: leveza, fé e luz!
Márcio Okayama
Você é a extensão do Masamiki – ele foi um irmão querido – D’us abençoe a sua família
E Berger
Amem Dr….. a todos nós….
Para quem teve a sorte de conhecer e conviver com o Masamiki ler o que o Marcio escreveu é um consolo e um prazer. O nosso querido e já saudoso colega conseguiu passar para seu filho o amor, a energia e a vontade de viver. Muito obrigado Marcio por compartilhar conosco seu sentimento, sua criatividade e sua coragem de ser você mesmo. É de fato uma honra para nós.
Abraço forte!
Claudio
Eu que agradeço o prestigio de terem postado esta carta aberta aqui, neste espaço…. muita luz e todos!
Algure!
P:S; A honra é toda minha em dividir e compartilhar esta egregora de cura e luz…vital nos tempos que vivemos….
Emocionante tb p q acompanhou a formação médica e humanística do seu pai, o grande Missami.
Linda mensagem !
Fiquei comovido ao ler esse tributo ao Massamiki
A sensibilidade do Marcio é marcante
“Hoje choramos por um colega. Amanha o sino dobrará por nós.
Envelhecer é bom, mas é um esporte radical, de alto risco.
Que o destino seja benigno para todos nós”.
Uma amiga, colega de turma, inquiriu-me se Masamiki tinha uma esposa.
Sim, foi casado com Ana Maria, sendo seu namorado desde tempos anteriores à Universidade.
Em nosso Baile do Calouro, foram fotografados juntos, dançando… dois pombinhos! (https://fmusp-turma52.com.br/baile-do-calouro-noite-de-maio-1964/)
Teve com ela um único filho Marcio, autor dessa significativo e comovente postagem – ele é professor de guitarra, um virtuose, muito reconhecido, inclusive no exterior!
Ana Maria foi uma guerreira! Sua nora Maria Regina, outra… Márcio Okayama dispensa comentários – vale a pena conhecer sua comovente relação com o pai, além de sua música e da inspiração que tem nas coisas do “sol nascente”
Também a conheci quando fui visita-lo numa casa de repouso que o maninho Berger me indicou.
Uma senhora muito simpática e delicadíssima nos cuidados ao nosso amigo
A Ana Maria é um doce de pessoa. Conversamos bastante quando fomos ver o Masamiki internado.
Sobre o “Encontro de Gerações”:
Evento promovido anualmente pela AAAFMUSP, algo único, que eu saiba, em todo o mundo: uma faculdade que abre suas portas a TODOS SEUS ALUNOS e ANTIGOS ALUNOS, a custo zero, para churrasco e outros comes e bebes.
Perdeu um pouco a graça há uns 6 anos, com a proibição de servir chopp, e em 2020, perdeu tudo com a pandemia. NÃO HOUVE!
Vale lembrar que a AAAFMUSP também oferece o brakfast do Jubileu de Ouro – todos nos lembramos…. já com saudade!
Há mais de 6 anos e 6 meses, a ausência do Masamiki se faz presente, na comovente declaração de amor de seu pai Marcio Okayama, registrada neste Site, pelo incansável colega, amigo e querido “Parceirinho” Eduardo Berger e que tive a oportunidade recente de reler.
Em outubro passado, após 2 anos de ausência pandêmica, o ” Encontro de Gerações ” aconteceu e a 52a se fez presente também com a lembrança do querido Masamiki Okayama. E assim a 52a turma FMUSP permanece SEMPRE JUNTOS !
Obrigado pelas lindas palavras!!!
Emocionado com tanto respeito e carinho!