sábado, julho 27

CONFISSÕES DE UM PSIQUIATRA, Domingos Lalaina Junior

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Uma outrora desconcertante, hoje engraçada, lembrança.

Um ano de formado, todo jovem, todo criterioso, todo psiquiatra, Residente da Universidade de São Paulo, todo vaidade por ser convidado pelo professor para ser colega de consultório, me achava naquela tarde inesquecível atendendo consultas no primeiro emprego, numa policlínica, no centro de São Paulo.

Ele entra. Representante de laboratório farmacêutico. Simpático, comunicativo, após alguma conversa, diz:
– “Doutor, eu vim, mesmo, trazer minha mulher, que não aceita que está mal. Ela acha que a consulta é para mim. Ela precisa ser atendida, por favor. O senhor sabe como lidar com esses casos”.

Depois disso, pedi para falar com ela.
– “Ah , Doutor, não sei o que fazer. Ele já teve várias crises, mas nenhuma como esta. Eu disse que vinha para consulta para poder trazê-lo”.
E continuou descrevendo todos os sintomas de um surto de euforia dos vários que o marido tinha apresentado na vida.

A seguir, eu o chamo novamente. Tinha ido até a rua e voltou, já totalmente mudado em seu comportamento, antes dissimulado.
– “Domingão, comprei estes óculos pra você!”
Enquanto eu fechava a porta, ele se sentou em meu lugar e me disse com sorriso de zombaria:
– “O que posso fazer pelo senhor?”

Acabei levando mais de duas horas para resolver o caso, encaminhando-o a uma clínica, onde o tratei, felizmente com sucesso. Durante muito tempo ele e eu ríamos de como nos conhecemos.

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