terça-feira, dezembro 3

“À DERIVA EM ALTO MAR” (Carta a meu cunhado) por Flavio Soares de Camargo

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Meu querido cunhado

Naquela tarde feliz em Ubatuba, com os seus netos a bordo, piquenique na Ilha Anchieta, almoço sensacional , um bacalhau genial, quem diria sobre os eventos seguintes…

Eu havia ido de Ilhabela para o saco da Ribeira, pois na sua praia (a “Praia Dura”) não tem ancoragem para o meu barco, uma antiga Carbrasmar 29.5, também chamada a “rainha dos mares”, devido a sua singradura.

Devido a excelente bacalhoada, decidi fazer o pernoite na praia do Perequê Mirim mesmo, onde estava ancorado – já era boca da noite. O pernoite a bordo é mágico, o camarote aconchegante, banheiro completo e silêncio absoluto! Deito-me com um excelente livro de romance aventura… e no rádio de bordo, completando o clima, um noturno de Chopin!

Madrugada anunciada com os pescadores indo para o mar – 4h30 da madruga: arrumar a tralha de bordo, um café da manhã curto, revisão do motor principal, do auxiliar, ligar os eletrônicos de navegação. O pesado diesel PERKINS 275 MI, um verdadeiro cavalo do mar ligado e rumo a Ilhabela!

Assim que entrei em alto mar, depois da Ilha do Mar Virado, um baque surdo no compartimento do motor, e este começou a girar livremente, desengatado. Abri o compartimento do motor, e eis o tamanho da encrenca: o eixo da hélice havia escapado do seu engate no reversor!

Voltando ao Saco da Ribeiro com o motorzinho auxiliar

Eu estava a deriva em alto mar, o terror de qualquer comandante de barco a motor!

Porém, o medo nos deixa prudentes e tenho um motor auxiliar, pequeno, mas está presente, sempre testado antes de sair para navegar! Ele nos salvou: levou-nos de volta ao porto de origem. 

 

 

Deixei recado com meu mecânico com estas imagens, telefonei para meu parceiro de aventuras, Klaus Greiner, contei o infortúnio e a fome que eu estava! Ele mora no Perequê Mirim, Saco da Ribeira, Esalqueano, colega da Márcia. Recebeu-me com um lauto café da manhã e muita risada!

Meu mecânico se manifestou por telefone, dizendo que o conserto era simples. “Coloque o barco num lugar que dá pé, entre com um snorkel, máscara e uma marretinha por baixo, e vai batendo no eixo do hélice até encaixar. Encaixou? Coloque a cupilha, aperte os parafusos e pronto”…

Falar é fácil! 75 eu e 80 o Klaus, respirando por snorkel, debaixo do barco de cinco toneladas, dando marteladas amortecidas pela pressão d’agua, foram duas horas de estafante trabalho… Mas deu certo realmente Pronto, serviço feito! Para comemorar uma bela peixada, “pois de ferro, apenas o eixo”, nós não!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Voltei devagarinho, e com razão: a hélice empenou e ficou vibrando!

Mas cheguei à marina em segurança!

Cunhadão, tivemos muita sorte em tudo isto acontecer sem a criançada a bordo!
Abraços,

Flávio

 

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